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Ana Gabriela Cabilhas Nutricionista e deputada do PSD
29.09.2024

Dar vida novamente à paisagem

Nesta tragédia cada pessoa tem a sua história - sem saber o que fazer ou o que salvar, a ajudar alguém ou a ser ajudado e a ser liberto de perigo.

Pertencemos aos lugares onde nascemos, crescemos e vivemos. O sentimento de pertença vai além das fronteiras físicas e, por isso, somos também dos lugares onde nos sentimos bem. Pertencemos aos sítios onde está a nossa família, a nossa comunidade e os nossos amigos, que sustentam a nossa identidade e onde estreitamos laços profundos. São esses lugares que definem o nosso lar. Quando observamos a destruição deixada pelos incêndios que sufocaram as regiões Norte e Centro do País, alimentados por condições atmosféricas extremas, sentimos a devastação nos vínculos humanos, na âncora cultural e na sensação de segurança e conforto, ao ter ceifado vidas e destruído habitações, empresas e património natural. Quando estes lugares se perdem, uma parte de nós desaparece com eles.

Numa mobilização coletiva, graças ao trabalho corajoso dos responsáveis pelas operações de combate e socorro e ao destemor de tantos anónimos, foram evitadas consequências mais devastadoras. Em situação de calamidade, as manifestações de solidariedade resistiram, sem que fossem consumidas pelas chamas. Portugal agradece os apoios interno e externo. O Governo requereu, prontamente, o auxílio do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, contando com aviões Canadair de Itália, França e Espanha e, ainda, de Marrocos. Hoje mesmo, o Ministério da Administração Interna anunciou a retribuição simbólica do esforço adicional por parte de milhares de bombeiros voluntários que combateram os incêndios entre 15 e 19 de setembro.

A força dos braços que atacaram o fogo é a mesma força do Governo, que não baixa os braços no suporte às populações afetadas. Desde logo, acompanhou com proximidade todo o processo e, com uma rapidez sem precedentes, criou um grupo de trabalho multidisciplinar, coordenado pelo Ministro Adjunto e da Coesão Territorial, para executar as respostas de apoio às famílias e à retoma de empresas, de recuperação de habitações, assistência a agricultores, restabelecimento das florestas, reparação de infraestruturas e de reposição de equipamentos. Para que as medidas cheguem a quem delas precisa, o Governo preocupou-se em garantir celeridade procedimental com a rigorosa transparência na afetação de fundos públicos. Por outro lado, foi determinado o reforço dos meios e da atividade de investigação criminal e ação penal em matéria de crimes relativos a incêndios. E, em breve, será apresentado um plano para potenciar o valor da floresta, aumentando a produtividade e o rendimento dos produtores florestais, e facilitando o correto ordenamento da floresta e o seu emparcelamento.

A tragédia dos incêndios de 2017 tem presença indelével na nossa memória coletiva, em que mais de uma centena de pessoas perderam a vida. Apesar dos estudos e estratégias subsequentes, a realidade força as pessoas a reiniciar, uma vez mais, os seus projetos de vida.

O apoio total às vítimas é uma causa que nos une, para que sejam encontradas as melhores soluções que sirvam o povo português. Neste sentido, o Grupo Parlamentar do PSD propôs a criação imediata de uma Comissão Eventual para avaliar o sistema de Proteção Civil e a Prevenção e Combate aos Incêndios de 2024. Importa apurar, em todas as fases, as questões relativas à prevenção, ao combate e às respostas económicas e sociais envolvidas, bem como avaliar o edifício legislativo e institucional sobre os quais os órgãos de soberania e a sociedade civil devem obrigatoriamente refletir.

Nesta tragédia cada pessoa tem a sua história - sem saber o que fazer ou o que salvar, a ajudar alguém ou a ser ajudado e a ser liberto de perigo. Do cheiro das cinzas renasce a esperança, e na união e entreajuda do nosso povo floresce a força que nos faz erguer e dar vida novamente à paisagem. 

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