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Salman Rushdie em julgamento: "Ocorreu-me que estava claramente a morrer"

Luana Augusto 11 de fevereiro de 2025 às 17:49

O autor testemunhou no julgamento do homem que o tentou matar em agosto de 2022. Quando lhe perguntaram quantas vezes tinha sido esfaqueado, afirmou: "Eu não estava a contar".

Salman Rushdie encontrou-se esta terça-feira pela primeira vez com Hadi Matar, o homem que o tentou assassinar em agosto de 2022, no tribunal onde este último está a ser julgado. O escritor descreveu o ataque a que sobreviveu, e que ocorreu durante um encontro literário em Nova Iorque. Foi mais de 35 anos depois de ter sido condenado pela primeira vez à morte por líderes religiosos iranianos, através da fatwa que se seguiu à publicação deVersículos Satânicos

REUTERS/Fabrizio Bensch

Rushdie, de 77 anos, testemunhou contra Hadi Matar, de 27 anos, acusado de ter esfaqueado o autor mais de uma dúzia de vezes no pescoço, estômago, peito, mão e olho, tendo-o deixado parcialmente cego e com lesões numa das mãos. Tudo aconteceu quando Salman Rushdie estava prestes a discursar para uma audiência ao ar livre sobre o tema de abrigo e lar.

Neste que foi o primeiro dia de julgamento, o autor descreveu como estava sentado numa cadeira no palco, de frente para o co-orador Henry Reece, quando "este ataque começou". "Apercebi-me que uma pessoa vinha a correr na minha direção pelo meu lado direito. Percebi que era alguém com roupa escura. Fiquei impressionado com os seus olhos que me pareciam escuros e ferozes."

E continuou: "Aconteceu tudo muito rápido. Fui esfaqueado repetidamente e mais dolorosamente no meu olho. Eu lutei para fugir. Levantei a minha mão em legítima defesa e fui esfaqueado."

Questionado sobre quantas vezes foi esfaqueado, respondeu: "Eu não estava a contar".

Salman Rushdie descreveu ainda o momento em que se estava a levantar da cadeira para fugir do agressor e caiu. Aponta que foi golpeado cerca de 15 vezes. "Ele estava a tentar bater-me tantas vezes quanto possível", lembrou ao mostrar aos juízes a cavidade ocular vazia, que está protegida com uma pala. "Fiquei gravemente ferido e não conseguia mais ficar de pé. Eu estava a gritar por causa da dor."

"Apercebi-me que estava deitado numa grande quantidade de sangue. A minha noção do tempo estava bastante turva, estava com dores nos olhos e nas mãos. Ocorreu-me que estava claramente a morrer", afirmou. 

Rushdie detalhou também como foi colocado numa maca e depois levado para um helicóptero médico de emergência. "Estava vagamente consciente do que estava a acontecer até o helicóptero pousar. Depois disso não me lembro de mais nada até muito tarde." O escritor que nasceu na Índia e tem dupla nacionalidade indiana e britânica ficou internado durante duas semanas. Durante este tempo, a única forma que tinha de comunicar era agitando os pés. 

Hadi Matar, que tem dupla cidadania, norte-americana e libanesa, é acusado de tentativa de homicídio e agressão, mas declarou-se inocente. Enquanto era levado para o tribunal, terá murmurado: "Do rio ao mar, a Palestina será livre". O julgamento deverá durar cerca de duas semanas. 

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