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Guterres: "Nenhum país pode reivindicar ser imune" ao terrorismo

16 de novembro de 2017 às 18:31

Secretário-geral da ONU considera que estratégia de combate ao terrorismo deve privilegiar defesa dos direitos humanos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu em Londres uma "estratégia global inteligente e abrangente de combate ao terrorismo que aborde as causas profundas do extremismo violento" e que centre os esforços na defesa dos direitos humanos.

Num discurso intituladoLuta contra o terrorismo e direitos humanos: vencer a luta preservando os nossos valores, numa palestra organizada pela SOAS University of London, Guterres enumerou cinco prioridades: maior cooperação internacional; maior prevenção; defesa dos direitos humanos e do estado de direito; combate do extremismo com argumentos inteligentes; e dar voz às vítimas do terrorismo.

"O terrorismo moderno está a ser travado a uma escala e a uma extensão geográfica completamente diferentes. Nenhum país pode reivindicar ser imune. Tornou-se numa ameaça sem precedentes para a paz, segurança e desenvolvimento internacionais", alertou.

No ano passado, adiantou, registaram-se pelo menos 11 mil ataques terroristas em mais de 100 países, resultando em mais de 25 mil mortes e 33 mil pessoas feridas.

"E enquanto os holofotes tendem a concentrar-se no terrorismo no Ocidente, nunca devemos esquecer que a grande maioria dos ataques terroristas ocorre em países em desenvolvimento. Em 2016, quase três quartos de todas as mortes causadas pelo terrorismo registaram-se em apenas cinco países: Iraque, Afeganistão, Síria, Nigéria e Somália", referiu.

O secretário-geral da ONU aludiu ainda às estimativas sobre o impacto económico global do terrorismo, estimado em 90 mil milhões de dólares (76,42 mil milhões de euros) em 2015.

Ao nível da cooperação, defendeu não só o seu reforço no âmbito da ONU, mas também das diferentes agências e forças de segurança, incluindo dentro dos próprios países, onde chegam a existir diferenças de línguas e falta de partilha de informações.

Mesmo sem ter alcançado consenso sobre uma Convenção abrangente sobre o terrorismo internacional, Guterres diz existirem "19 convenções internacionais diferentes e muitos instrumentos regionais neste campo que facilitam o processo de perseguição de terroristas".

Para 2018, Guterres pretende convocar a primeira cimeira da ONU de directores de agências antiterroristas de forma a "forjar novas parcerias e construir relacionamentos de confiança".

Na área da prevenção, falou da necessidade de investir na juventude para estancar o recrutamento de extremistas, que incide maioritariamente nas idade entre 17 e 27 anos, criando mais oportunidades de trabalho e de educação, e no combate à disseminação de conteúdos extremistas, propondo uma "acção global coordenada e determinada" na Internet.

Criticou a estereotipização, incluindo pela comunicação social, a quem acusa de se concentrar mais nos ataques de imigrantes ou membros de minorias étnicas e religiosas do que nos atentados terroristas e ataques perpetrados por grupos extremistas de extrema-direita.

"Os refugiados que fogem do conflito são frequentemente alvo [de terrorismo]. É uma distorção horrível da sua situação acusar as vítimas do terrorismo do crime de que acabaram de fugir", lamentou.

Sobretudo, elegeu a defesa dos direitos humanos e do estado direito como a forma "mais segura para prevenir um círculo vicioso de instabilidade e ressentimento"

Guterres alertou para a necessidade de os países, perante a ameaça terrorista, estarem a acelerar a implementação de legislação antiterrorista e a reforçar os meios de vigilância.

"Mas sem uma base firme nos direitos humanos, as políticas anti-terrorismo podem ser mal usadas e abusadas, notou.

O terrorismo, salientou, "é fundamentalmente a recusa e a destruição dos direitos humanos. A luta contra o terrorismo nunca terá sucesso perpetuando a mesma recusa e destruição".

"Devemos combater implacavelmente o terrorismo para proteger os direitos humanos", concluiu.

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