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Filhos de espiões não sabiam que eram russos

Ana Bela Ferreira 03 de agosto de 2024 às 15:10

Crianças de 11 e oito anos nasceram na Argentina e não falam russso. Foram cumprimentadas por Vladimir Putin, à chegada à Rússia, sem saberem quem era. Pais eram espiões na Eslovénia.

Maria Rosa Mayer Munos e o seu marido Ludwig Gisch eram um casal de argentinos a viver na capital de Eslovénia desde 2017. Na quinta-feira regressaram à sua verdadeira casa, a Rússia. Afinal, os dois eram espiões e integraram amaior troca de prisioneiros entre Moscovo e o Ocidente desde a Guerra Fria. Foi na viagem para a Rússia que os filhos do casal ficaram a saber as suas verdadeiras origens.

Sputnik/Mikhail Voskresensky/Pool via REUTERS

O próprio porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, admitiu que as crianças, de 11 e 8 anos, não sabiam sequer quem era o presidente russo que os recebeu no aeroporto. "As crianças dos agentes secretos perguntaram aos pais quem é que os recebeu ontem. Elas nem sabiam quem era Putin", afirmou Peskov.

Maria e Ludwig eram na verdade os agentes Artyom Dultsev e Anna Dultseva. Viviam uma vida dupla - ele tinha uma empresa de informática e ela uma galeria de arte online. Os filhos falavam apenas castelhano e estudavam numa escola internacional, que continuaram a frequentar depois da prisão dos pais.

A pacatez do bairro em Ljubljana onde viviam viria a ser abalada em dezembro de 2022 quando as secretas eslovenas expuseram a fachada em que viviam. Chegaram ao casal através de uma pista dada pelos serviços secretos de outro país, que o secretário de Estado do primeiro-ministro, Vojko Volk, não quis revelar. O casal Dultsev acabou por ficar detido cerca de 20 meses.

Os dois admitiram ser espiões russos e por isso foram condenados a 19 meses de prisão e proibidos de entrar na Eslovénia por cinco anos. Como já tinham cumprido a pena de prisão, acabaram a entrar no acordo de troca de prisioneiros, que incluiu 16 ocidentais e oito russos.

Foi na quinta-feira quando embarcaram em Ancara, na Turquia, com destino ao aeroporto de Vnukovo, na Rússia, que o casal contou aos filhos a sua verdadeira identidade. As crianças, Sofia, de 11 anos, e Gabriel, de oito, nasceram na Argentina. Quando chegaram à Rússia, Putin saudou-os com um "buenas noches", abraçando Anna Dultseva e dando-lhe a ela e à filha um ramo de flores.

"É assim que os 'ilegais' trabalham. Fazes estes sacrifícios tremendos pela dedicação ao seu trabalho", descreveu Peskov. 

Segundo os serviços secretos eslovenos, a inteligência russa treina os seus espiões 'ilegais' durante antes no seu país natal e depois estes são colocados em território estrangeiro cortando relações com os familiares na Rússia, para que nada os ligue ao país.

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