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Covid-19: Bolsonaro ataca presidente da Câmara dos Deputados

17 de abril de 2020 às 09:00

O chefe de Estado brasileiro acusou Rodrigo Maia de "péssima atuação" e de uma tentativa de o afastar do poder.

O chefe de Estado brasileiro atacou na quinta-feira o presidente da Câmara dos Deputados do país, acusando-o de "péssima atuação" e de uma tentativa de o afastar do poder.

"O Brasil não merece o que o senhor Rodrigo Maia está a fazer. O Brasil não merece a péssima atuação dele dentro da Câmara dos Deputados. (...) Não estou a romper com o parlamento. Muito pelo contrário, é a verdade que tem de ser dita", afirmou Jair Bolsonaro, entrevista ao canal CNN Brasil.

"Parece que a intenção é tirar-me do Governo. Quero crer que esteja equivocado", acrescentou, ao comentar a aprovação pela Câmara dos Deputados de um projeto de auxílio aos estados face à pandemia do novo coronavírus.

Com o projeto em causa, estados e municípios brasileiros poderão ser compensados pela queda no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)e Imposto Sobre Serviço (ISS), que são responsáveis por parte considerável das receitas estaduais e municipais.

O impacto total do projeto de lei é estimado em mais de 80 mil milhões de reais (mais de 14 mil milhões de euros) nas contas públicas.

Porém, Bolsonaro considerou que, com esta proposta, Rodrigo Maia está a conduzir o país para o "caos" e "a enfiar a faca" no Governo Federal.

"Lamento a posição do Rodrigo Maia, que resolveu assumir o papel do Executivo. Ele tem de entender que ele é o chefe do Legislativo, e tem que me respeitar como chefe do Executivo. O sentimento que eu tenho é que ele não quer amenizar os problemas, ele quer atacar o Governo federal, enfiar a faca", sublinhou Bolsonaro, destacando não ter "como pagar uma dívida monstruosa dessas".

"Isso que o senhor está a fazer não se faz com o nosso Brasil. Lamento, mas não se faz. Isso é falta de patriotismo, falta de um coração verde e amarelo, falta de humanismo com este país maravilhoso que se chama Brasil", acrescentou.

Contactado pela CNN Brasil, Rodrigo Maia recusou alimentar polémicas, e afirmou que não vai responder a Bolsonaro "no nível que ele quer que responda".

"O Presidente não vai ter de mim ataques. Ele atira-nos pedras, o parlamento vai atirar flores ao Governo Federal", afirmou.

Maia defendeu que Bolsonaro usou "um velho truque da política, para mudar de assunto", mas "o assunto continua a ser a saúde".

Em causa está a exoneração, por parte de Bolsonaro, do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, após várias semanas de confronto entre ambos em relação ao isolamento como medida para evitar a propagação do novo coronavírus.

O isolamento social é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para enfrentar a pandemia da covid-19, e foi defendida por Mandetta, contrariando a posição de Bolsonaro, que teme que a medida resulte em consequências negativas para a economia do país.

Para o lugar de Mandetta, que é médico ortopedista, Bolsonaro nomeou o oncologista Nelson Teich, com ambos a concordarem que não haverá uma "definição brusca" sobre o isolamento social.

"Vamos dar uma oportunidade ao novo ministro, mas a saída do Mandetta assusta", indicou Maia, comparando a situação a uma guerra, em que se trocou o principal general.

O deputado salientou que o momento que o país atravessa requer união em torno de um objetivo principal: "salvar vidas".

"Precisamos de ter responsabilidade, sangue frio e medidas. (....) O Presidente passou 27 anos aqui [na Câmara dos Deputados], espero que tenha aprendido que aqui é a casa do diálogo. (...) Não podemos criar mais insegurança. Presidente, conte com a Câmara", concluiu.

O Brasil ultrapassou na quinta-feira a barreira das 30 mil pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus, totalizando 30.425 casos confirmados e 1.924 óbitos desde o início da pandemia, informou o executivo.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 145 mil mortos e infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 465 mil doentes foram considerados curados.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa quatro mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

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