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Cimeira China- UE arranca marcada por tensões e baixas expectativas

Lusa 21 de julho de 2025 às 07:23

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, vão representar o lado europeu na reunião de quinta-feira, que decorre num momento em que as divergências estruturais entre Bruxelas e Pequim se tornaram "incontornáveis".

China e União Europeia (UE) assinalam esta semana 50 anos de relações diplomáticas com uma cimeira em Pequim, num clima de crescente desconfiança mútua em matéria de comércio e segurança, que deixa pouco espaço para resultados concretos, apontaram analistas.

Huang Jingwen/Xinhua via AP

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, vão representar o lado europeu na reunião de quinta-feira, que decorre num momento em que as divergências estruturais entre Bruxelas e Pequim se tornaram "incontornáveis", de acordo com o grupo de reflexão ('think tank') Bruegel.

"O encontro é uma 'não-cimeira'", acrescentou Bruegel, antecipando que dificilmente resultará em avanços substanciais, dada a relutância de ambas as partes em ceder nos principais pontos de discórdia.

O lado chinês deve estar representado pelo Presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Li Qiang.

Entre os principais temas em agenda estão o desequilíbrio comercial -- com um défice de mais de 300 mil milhões de euros para o lado europeu --, o acesso a matérias-primas críticas como as terras raras, as acusações de práticas comerciais desleais, sobretudo no setor dos veículos elétricos, e a posição da China face à guerra na Ucrânia.

A UE acusa Pequim de distorcer os mercados ao subsidiar a sua indústria, o que se reflete em veículos elétricos exportados para o mercado europeu a preços abaixo dos praticados pelos fabricantes locais.

A Comissão Europeia impôs recentemente tarifas entre 17% e 45,3% sobre automóveis elétricos fabricados na China. No entanto, fabricantes chineses como a BYD continuam a expandir a presença na Europa, com planos para instalar unidades de produção dentro da própria UE.

Outro foco de tensão reside nas restrições chinesas à exportação de minerais essenciais para setores como o automóvel, aeroespacial e defesa.

Ursula von der Leyen acusou Pequim de estabelecer um "padrão de dominação, dependência e chantagem", ao utilizar o controlo das cadeias de fornecimento como instrumento de pressão política.

No domínio da segurança, a proximidade estratégica entre Pequim e Moscovo continua a gerar inquietação em Bruxelas. Em junho, Von der Leyen afirmou que o apoio "incondicional" da China à Rússia está a alimentar a economia de guerra russa e a comprometer a estabilidade na Europa.

Segundo o jornal de Hong Kong South China Morning Post, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, terá transmitido a responsáveis europeus que um eventual colapso da Rússia desviaria o foco estratégico dos Estados Unidos para o Indo-Pacífico, algo que Pequim quer evitar.

A revista Politico considerou que não se esperam "resultados" relevantes do encontro, e que o mesmo poderá servir sobretudo para reafirmar as profundas divergências entre os dois blocos. A publicação cita diplomatas europeus que acusam Pequim de tentar dividir o bloco comunitário, privilegiando relações bilaterais com países como a Alemanha ou França.

O esforço de reaproximação iniciado por Pequim no início do ano, com visitas de alto nível e propostas como a retoma do Acordo Global de Investimento, tem esbarrado na resistência de Bruxelas.

Apesar de contactos positivos entre Von der Leyen e Li Qiang, e do levantamento parcial de sanções mútuas, a ausência de mudanças estruturais na política económica e externa chinesa continua a ser um obstáculo a qualquer entendimento significativo.

Também a publicação The Diplomat escreve que o simbolismo do 50.º aniversário das relações China-UE contrasta com a realidade atual.

"A cimeira deverá apenas confirmar quão distantes estão os valores e interesses de ambas as partes", lê-se num artigo de análise da revista.

Mesmo num momento de tensão transatlântica, devido à política comercial agressiva da nova administração dos Estados Unidos, a UE continua a ver a China como um rival sistémico e um competidor estratégico, cuja conduta desafia as regras da ordem internacional baseada no Estado de direito, nos direitos humanos e na democracia, frisou.

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