Quando a primeira temporada de Rabo de Peixe explodiu na paisagem televisiva portuguesa, em maio de 2023, parecia que o tempo dos Açores se comprimira num só turbilhão; um naufrágio, cocaína, amigos a arriscar tudo, alegrias e traições, violência à espreita, e o espectador agarrado ao ecrã. A produção, criada por Augusto Fraga, converteu a história verídica de 2001, em que um veleiro naufragou com meia tonelada de cocaína nas águas de Rabo de Peixe - na ilha de São Miguel - numa ficção tensa, vibrante, com um elenco que incluía José Condessa, Helena Caldeira, Rodrigo Tomás e André Leitão.
No comunicado de estreia, a Netflix salientou que “a história do Eduardo não podia terminar assim”. Aquela primeira travessia levou a série ao Top-10 global de séries em língua não inglesa e trouxe ao público português algo que parecia grande demais para os nossos canais. Agora, a segunda temporada procura não simplesmente repetir o que funcionou, mas elevar o risco e ampliar o cenário.
Como argumento temos o regresso de Eduardo (José Condessa) a Rabo de Peixe, três meses após a sua partida, e o encontro com “uma realidade completamente diferente. As drogas mudaram de mãos e a amizade do grupo é testada por novos e inesperados inimigos. Surge uma nova oportunidade de negócio, mas será que "é mesmo só mais uma vez?”.
O núcleo principal do elenco mantém-se mas, desta feita, somam-se José Raposo, Ricardo Pereira e os brasileiros Caio Blat e Paolla Oliveira. Então o que muda? Se na primeira temporada o cenário era o encontro inevitável entre sonho e desastre, agora, o palco alarga-se e o risco intensifica-se. Os Açores continuam a funcionar como cenário central, mas o exterior, o mercado e a circulação das drogas entram em cena mais visivelmente.
A amizade entre o grupo, outrora alicerce, passa a terreno movediço. Mas a série portuguesa não é apenas um thriller de ação, é também uma narrativa sobre lealdade, identidade e escolha num território marginal, nos Açores. Para o espectador, esta nova temporada representa uma aposta renovada nas séries portuguesas, que mostram que podemos ter ficção de impacto internacional sem renunciar à língua, ao território ou à especificidade. É também um deslindar: até que ponto o sonho de mudar de vida se confunde com a inevitabilidade da queda?
"Uma série para ver esta semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todas as segundas-feiras, uma série para ver ao longo dos próximos dias - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Tiago Neto.