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Morreu Carlos Avilez, fundador do Teatro Experimental de Cascais

Encenador e ator tinha 88 anos. Foi um dos fundadores do TEC, que existe desde 1965.

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Andreia Antunes com Leonor Riso , Lusa 22 de novembro de 2023 às 11:08

Carlos Avilez, encenador e fundador do Teatro Experimental de Cascais, morreu esta madrugada. Tinha 88 anos. 

A informação foi confirmada à SÁBADO pela Escola Profissional de Teatro de Cascais.

Segundo a agência Lusa, foi vítima de paragem cardio-respiratória, no Hospital de Cascais, de acordo com fonte do Teatro Experimental de Cascais. De acordo com a mesma fonte, Carlos Avilez deu entrada na terça-feira no Hospital de Cascais com uma indisposição, e viria a falecer cerca das 02:00 da madrugada de hoje naquela unidade hospitalar.

Carlos Vitor Machado, mais conhecido por Carlos Avilez, nasceu em 1937, e estreou-se profissionalmente como ator em 1956, na Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, onde permaneceu até 1963.

Com uma vida dedicada ao teatro, foi um dos fundadores do Teatro Experimental de Cascais, que completou 58 anos de existência a 13 de novembro último.

A vida de Carlos Vítor Machado, mais conhecido como Carlos Avilez, esteve sempre ligada ao teatro. Os seus avós eram empresários de teatro, mas após a morte do seu avô, foi afastado dessa vida pelos familiares da mãe.

Estudou matemática na faculdade, onde ainda fazia teatro amador, até ter escrito uma carta a Amélia Rey Colaço. Iniciou-se então no mundo do teatro em 1956 como ator na Companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro onde esteve até 1963, ano em que se estreou como encenador. A sua primeira encenação ocorreu na Sociedade Guilherme Cossoul, em Lisboa, com uma obra contemporânea trágica, A Castro de António Ferreira. 

Em 1965, fundou o Teatro Experimental de Cascais. Aqui encenou vários espetáculos como o D. Quixote, Fedra, Ivone, Princesa de Borgonha, Fuenteovejuna, Galileu Galilei, O Balcão, A Morte de Danton, Rei Lear, Os Biombos, La Nonna, O Dia de uma Sonhadora, Lorca, Federico, Os Negros, Casamento, Doce Pássaro da Juventude, Auto do Solstício do Inverno, Inês de Portugal, A Cozinha, João Bosco - Rebelde Sonhador, D. Carlos, Woyzeck, Peer Gynt, Macbeth, Tempestade, Cais Oeste, Splendid’s e Os irmãos karamazov.

Em digressões do TEC, apresentou algumas peças em Espanha, França, Itália, Hungria, Brasil, Estados Unidos, Japão, Angola e Moçambique.

No ano de 1970, foi nomeado diretor artístico e responsável pelo dia de Portugal na Expo ’70 em Osaka, no Japão, e nove anos depois foi nomeado, juntamente com Amélia Rey Colaço, diretor da Companhia Nacional de Teatro I – Teatro Popular, então sediada no Teatro São Luiz. Fez também uma incursão pelo teatro lírico, tendo encenado várias óperas, entre as quais "Carmen", "Contos de Hoffmann", "Kiu", "As Variedades de Proteu", "Ida e Volta", "O Capote", "Inês de Castro", "O Barbeiro de Sevilha" e "Madame Butterfly".

Em 1993, fundou a Escola Profissional de Teatro de Cascais, uma ideia nascida de uma proposta do antigo ministro da Educação Roberto Carneiro, no final de um espetáculo no TEC a que assistiu com os filhos. 

Entre esse e o ano 2000, Carlos Avilez passou também pelos teatros nacionais D. Maria II e S. João, como diretor, e pelo Instituto de Artes Cénicas, como presidente.

Agraciado em 1995 com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, Carlos Avilez foi ainda distinguido com as Medalhas de Honra e Mérito Municipal da Câmara Municipal de Cascais, de Mérito Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, da Associação 25 de Abril, e com a Medalha de Mérito Cultural da Vila de Óbidos.

Foram vários os prémios que recebeu ao longo da carreira, desde logo no início o Prémio António Pinheiro, da antiga Secretaria de Estado da Informação e Turismo, e o Prémio de Imprensa, da Casa da Imprensa, pela encenação de "D. Quixote".

Daí para a frente somou muitos outros, como prémios da crítica e de vários órgãos de comunicação social, de que se destacam vários Se7e de Ouro, Nova Gente e Globos de Ouro.

Foi ainda distinguido com o Prémio da Crítica 2015 - Distinção Particular ao Teatro Experimental de Cascais, e com o Prémio Carreira e Obra da Sociedade Portuguesa de Autores.

Sempre provocador e transgressor, Carlos Avilez bateu-se continuamente pela sobrevivência do teatro e lamentava a crescente solidão das pessoas, agravada com a pandemia, que retirava público às salas de espetáculos.

Numa entrevista de 2021, ao 'site' Cultura Cascais, Carlos Avilez frisou a necessidade de as Companhias que lutam pela sobrevivência se unirem cada vez mais e mostrarem à sociedade e aos poderes públicos que são importantes e que estão vivos, todos os dias e não apenas no Dia Mundial doo Teatro.

"Nós não somos objetos decorativos. Somos pessoas que dependem desta profissão que é uma profissão difícil que arranca a alma das pessoas. Não nos deixem desaparecer porque nós também não vamos deixar que o Teatro desapareça. Isso está fora de questão", disse.

Carlos Avilez desapareceu hoje, mas deixou bem viva a sua marca gravada na História do Teatro.

Com Lusa 

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