O livro As Novas Cartas Portuguesas, publicado em 1972, em co-autoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, foi decisivo na vida e na carreira de Maria Teresa Horta. A obra foi banida pelo Estado Novo e as autoras levadas a julgamento. Nos 50 anos do lançamento do polémico livro das "Três Marias", baseado nas cartas de amor dirigidas a um oficial francês pela freira Mariana Alcoforado, a escritora portuguesa foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade. Para trás ficou uma vida dedicada à cultura e à luta contra o Estado Novo, a guerra colonial e a opressão sobre as mulheres. Maria Teresa Horta morreu nesta terça-feira, aos 87 anos.
Filha de um antigo Bastonário da Ordem dos Médicos e de uma aristocrata portuguesa, Maria Teresa Horta nasceu a 20 de maio de 1937 em Lisboa. Estudou no liceu D. Filipa de Lencastre e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e depressa entendeu a realidade das mulheres em Portugal, sendo fundamental para o Movimento Feminista de Portugal.
Pensadora, jornalista e cronista, foi presença assídua em publicações como o Diário de Lisboa, O Século, Diário de Notícias, Jornal de Letras e Artes ou A Capital. Neste vespertino esteve à frente do suplemento dedicado à Arte e Literatura, para o qual contribuíram grandes nomes da cultura portuguesa, como Natália Correia, Ary dos Santos ou José Saramago, entre muitos outros.
Militante durante 14 anos do Partido Comunista Português (de 1975 a 1989, com a queda do Muro de Berlim), foi chefe de redação da revista Mulheres, onde entrevistou personalidades que deixaram a sua marca na luta feminista global, como Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras ou Maria Bethânia.
Autora e ativista reconhecida e premiada, foi galardoada, ao longo da vida, com diversos prémios e variadas distinções. Numa dessas ocasiões, em 2011, ao aceitar o Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (pela obra As Luzes de Leonor), recusou recebê-lo das mãos do então Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho. A justificação de Maria Teresa Horta foi de que o líder do PSD estaria "a destruir o país".
Ordem do Infante D. Henrique por Jorge Sampaio, Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores em 2014, Melhor LIvro de Poesia (Anunciações) de 2017, Medalha de Mérito Cultural de 2020 do Ministério da Cultura e Doutora Honoris Causa, em 2023, pelo ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida são outras das suas distinções.
No final de 2024, a BBC incluiu-a na lista das 100 mulheres mais influentes e inspiradoras do mundo, reconhecendo a sua obra e a luta social em defesa das mulheres e dos seus direitos, nomeadamente de reprodução.
Maria Teresa Horta foi casada duas vezes, a última das quais com o jornalista Luís de Barros, com quem teve o único filho, Luís Jorge Horta de Barros, em 1965. Tinha ainda dois netos, Tiago e Bernardo.