O filme Negação abre, na terça-feira, no Cinema S. Jorge, em Lisboa, a quinta edição da Judaica - Mostra de Cinema e Cultura, que também vai decorrer em Cascais, Belmonte e Castelo de Vide, segundo o programa divulgado pela organização.
A quinta edição da Judaica começa com a longa-metragem baseada no livro History on Trial: My Day in Court With a Holocaust Denier, sobre a luta da historiadora Deborah Lipstadt (interpretada por Rachel Weisz), pela verdade dos factos, contra o revisionismo do escritor David Irving, que construiu uma imagem favorável à Alemanha nazi. O filme é realizado por Mick Jackson, com argumento de David Hare.
A historiadora norte-americana, após a publicação da sua obra Denying the Holocaust The Growing Assault on Truth and Memory, no início da década de 90, foi processada por difamação pelo escritor britânico David Irving, que minimizou o carácter violento da Alemanha de Hitler, negou a morte de judeus em Auschwitz (na fotografia) e a existência de campos de extermínio.
No ano 2000, a justiça britânica reconheceu David Irving como um "negador activo do Holocausto" e condenou-o ao pagamento de uma indemnização de dois milhões de libras (cerca de 2,3 milhões de euros, conversão feita segundo a taxa de câmbio de 26 de Março) a Deborah Lipstadt e à sua editora, a Penguin House.
O filme negação é exibido na abertura a par da curta-metragem Com alguma paciência, de László Nemes, o realizador de O Filho de Saul, Óscar de melhor filme estrangeiro, em 2016. Esta curta metragem descreve uma situação de guerra apenas com base nas expressões de um militar.
No segundo dia da mostra realiza-se o debate "Negacionismo, Pós-verdade: Defender o Indefensável?", com participação Esther Mucznik, da Comunidade Israelita de Lisboa, o historiador Pedro Aires Oliveira, da Universidade Nova de Lisboa, e o juiz Renato Barroso.
Lou-Andreas Salomé - A Vida de uma Filósofa, da alemã Cordula Kablitz-Post, fecha a programação de quarta-feira. O filme fala sobre o universo da autora de origem russa tendo como foco principal a sua proximidade ao filósofo Nietzsche, ao psiquiatra e "paí" da psicanálise, Freud, e com o poeta Rainer Maria Rilke.
Indignação, de James Schamus, adaptado do romance do norte-americano Philip Roth do mesmo nome, será exibido na quinta-feira, com apresentação do escritor Richard Zimler.
Quinta-feira, 30 de Março, estará em Lisboa o rabino William Wolff, para a estreia do documentário da alemã Britta Wauer sobre o seu percurso - O rabino Wolff - e para a exibição de Uma turma difícil, produção francesa de Marie-Castille Mention-Schaar, sobre o encontro de um grupo de alunos em risco com sobreviventes de campos de concentração nazi.
Ao longo dos restantes dias serão ainda apresentados Operação Antropóide, de Sean Ellis, sobre a morte do dirigente nazi Reinhard Heydrich, e O Rei do Once, do argentino Daniel Burman, que remete para relações familiares no bairro judaico de Buenos Aires. Estes filmes não terão estreia comercial em Portugal, segundo a organização da mostra.
O programa conta ainda com o documentário Jerry Lewis - O Homem por trás do Cómico, apresentado pelo crítico João Lopes, e O Último a Rir, com nomes da comédia norte-americana, como Mel Brooks e Rob Reiner, que será apresentado pelo escritor Francisco José Viegas.
A Judaica - Mostra de Cinema e Cultura em Lisboa encerra a 2 de Abril, com A Guerra dos 90 Minutos, "falso-documentário" israelita em que o conflito entre Israel e a Palestina se traduz num jogo no estádio de Leiria, com o actor português Pêpê Rapazote a fazer de árbitro. A sessão conta com o realizador, Eyal Halfon, e o produtor, Assaf Amir.
A mostra será retomada em Cascais a 6 de Abril, com a antestreia de O jovem Karl Marx, do realizador Raoul Peck, que foi nomeado para o Óscar de melhor documentário deste ano por I am not your negro, baseado na obra de James Baldwin, Remeber this House.
Em Belmonte a Judaica vai decorrer de 5 de Maio a 3 de Junho e, em Castelo de Vide, de 12 de Maio a 10 de Junho.
Nestas duas localidades será exibido o filme O último voo de Petr Ginz, de Sandra Dickson, sobre um adolescente assassinado em Auschwitz.
Em Belmonte será recordado o engenheiro, historiador e arqueólogo de origem polaca Samuel Schwarz, que se fixou em Portugal no início da Grande Guerra de 1914-18.
A programação completa poderá ser consultada no siteoficial.