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Quem foi a ativista política interpretada por Fernanda Torres em “Ainda Estou Aqui”?

Eunice Paiva tornou-se num símbolo da luta contra a ditadura militar brasileira nos anos 70 após o desaparecimento do seu marido, Rubens Paiva.

Gabriela Ângelo 02 de fevereiro de 2025 às 10:00
Retirado do Instituto Vladimir Herzog

Ainda Estou Aqui, o filme de Walter Salles nomeado para três Óscares, retrata a história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, após o desaparecimento do seu marido às mãos do governo militar e baseado na autobiografia do seu filho, Marcelo Rubens Paiva, com o mesmo nome. Quando tinha 20 anos, o dramaturgo teve um acidente, em que tentou mergulhar num lago, deixando-o tetraplégico. 

A sua mãe, Eunice, nasceu em 1929 em São Paulo e cresceu no bairro do Brás. Estudou primeiro na Universidade Mackenzie onde tirou um curso de Letras e mais tarde, após o desaparecimento do seu marido, estudou Direito. Em 1952 casou-se com o engenheiro e deputado pelo Partido Trabalhista Brasileiro, Rubens Paiva, e juntos tiveram cinco filhos, Marcelo Rubens Paiva, Vera Paiva, Eliana Paiva, Ana Lúcia Paiva e Maria Beatriz Paiva.

A 20 de janeiro de 1971 seis militares entraram na sua casa no Rio de Janeiro e levaram o seu marido para as instalações do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), onde mais tarde foi torturado e assassinado. Eunice e a sua filha Eliana também chegaram a ser presas e interrogadas, durante 12 dias e 24 horas respectivamente.

Ao Globo, Eliana explica como foi o seu tempo na cadeia. "Me apalparam, bateram na minha cabeça. Uma hora quebrei o pau com ele, comecei a falar que aquilo era ilegal e que eu era menor de idade". Quando foi libertada, estava cheia de fome e a primeira coisa que fez foi comprar um sundae. 

Depois de ter sido libertada, Eunice começou à procura do marido ou de pistas que poderiam ser ligadas ao seu desaparecimento, mas nunca mais o encontrou. Em 1973 começou a estudar Direito e tornou-se advogada, envolvendo-se em causas de ativismo social e político durante os anos 80 e 90. Foi uma das figuras principais na pressão para a promulgação da Lei nº 9.140, que determinou que as pessoas desaparecidas durante a Ditadura Militar fossem consideradas mortas e que fossem emitidas as suas certidões de óbito.

Só em 1996 é que o governo emitiu o certificado de óbito do seu marido e em 2014 a Comissão da Verdade, um órgão criado para apurar os crimes cometidos durante a ditadura, informou a família de que Rubens teria sido torturado de uma forma "extremamente violenta" resultando na sua morte. 

Eunice Paiva faleceu quatro anos depois, a 13 de dezembro de 2018 aos 86 anos. Sofria de Alzheimer há cerca de 14 anos e faleceu na data que marcou os 50 anos da promulgação do Ato Institucional Número 5, utilizado durante a ditadura para legalizar a tortura durante o regime. Foi um símbolo da luta contra a ditadura militar do Brasil que durou cerca de 21 anos. 

Numa entrevista com O Globo, Marcelo Rubens Paiva revelou que a principal lição deixada pela mãe "é recusar o papel de vítima, é não baixar a cabeça". "Ela ficou com cinco crianças e sem dinheiro nenhum", explica, "mas não parou, tocou em frente, se reconstruiu, priorizou sua integridade enquanto mãe".

No filme Ainda Estou Aqui as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro protagonizam Eunice Paiva em diferentes alturas da sua vida. Fernanda Torres já venceu um Globo de Ouro de melhor atriz e é uma das favoritas para vencer o Óscar na mesma categoria.

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