O maior museu do mundo dedicado a uma civilização abre as portas em Gizé
Após duas décadas de atrasos e adiamentos, o novo museu abre finalmente portas junto às pirâmides de Gizé, reunindo mais de 50 mil peças e assinalando uma nova etapa na estratégia de revitalização do turismo egípcio.
O museu foi projetado com vista sobre as pirâmides de GizéAP Photo/Amr Nabil
Volvidas duas décadas o Egito inaugura, no sábado, 1 de novembro, o Grand Egyptian Museum (GEM), um projeto de envergadura monumental que ambiciona tornar-se o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização. Situado às portas do Cairo, junto ao planalto de Gizé e às pirâmides, o edifício de mil milhões de dólares (cerca de 862 milhões de euros) — concebido pelo atelier irlandês Heneghan Peng Architects — é agora o novo epicentro da política egípcia de valorização do património e de reforço do turismo, num país ainda marcado por graves constrangimentos económicos.
O museu integra mais de 50 mil artefactos que documentam a história egípcia, um número significativamente superior às cerca de 35 mil peças expostas no Louvre, em Paris. Entre as obras apresentadas encontram-se esculturas, sarcófagos, relevos e joias, mas também instrumentos e objetos da vida doméstica, alguns provenientes de recentes escavações arqueológicas em Saqqara, 22 quilómetros a sul do Cairo.
A construção do GEM começou em 2005 mas foi interrompida durante três anos na sequência da instabilidade política provocada pela Primavera Árabe, em 2011. A inauguração, sucessivamente adiada, chegou a estar prevista para julho deste ano, mas foi novamente protelada devido ao agravamento dos conflitos no Médio Oriente. O presidente Abdel Fattah al-Sisi, que fez do projeto uma das bandeiras do seu mandato, preside agora à cerimónia de abertura, na qual se esperam vários líderes internacionais.
Hassan Allam, diretor da empresa responsável pela operação do museu, projeta 15 a 20 mil visitantes diáriosAP Photo/Amr Nabil
O edifício impõe-se pela monumentalidade e pela ligação visual às pirâmides; a fachada triangular em vidro evoca as formas geométricas dos templos vizinhos, enquanto que o átrio principal acolhe uma estátua de granito de Ramsés II, com 3.200 anos e onze metros de altura, transferida da Praça da Estação Central do Cairo.
Uma escadaria de seis andares conduz depois os visitantes às galerias superiores, de onde se avista o planalto de Gizé, e uma ponte liga o museu às pirâmides, acessível a pé ou através de veículos elétricos.
O espaço inclui 24 mil metros quadrados de exposições permanentes, um centro de conservação, um museu infantil, áreas de conferências e zonas comerciais. As doze galerias principais cobrem períodos que vão da pré-história ao domínio romano, apresentadas de forma cronológica e temática, com recurso a tecnologias de realidade mista e sistemas multimédia.
A coleção integra mais de 50 mil artefactos que documentam a história egípciaAP Photo/Amr Nabil
Segundo o diretor executivo do museu, Ahmed Ghoneim, a linguagem expositiva "foi pensada para a geração Z", referindo que "a Geração Z já não usa os rótulos que nós, os mais velhos, usávamos, mas sim a tecnologia."
Um dos momentos mais aguardados da inauguração é a abertura das salas dedicadas ao espólio do faraó Tutankhamon, reunido pela primeira vez na íntegra desde a descoberta do túmulo, em 1922, pelo arqueólogo britânico Howard Carter, na cidade de Luxor.
As cerca de cinco mil peças incluem o trono dourado, o sarcófago e a icónica máscara funerária em ouro, quartzo e lápis-lazúli. Algumas obras foram restauradas no centro de conservação do museu, incluindo as três camas funerárias e os seis carros de guerra. “Foram trabalhos de extrema precisão”, explicou Jailan Mohamed, chefe de restauro do museu, à Associated Press.
A máscara de Tutankhamon, recorde-se, sofreu um incidente em 2014, quando a barba foi acidentalmente partida e colada de forma inadequada com resina epóxi, tendo sido posteriormente restaurada por uma equipa conjunta de especialistas egípcios e alemães.
Outro dos grandes destaques do GEM é o barco solar de Khufu – o faraó que mandou erguer a Grande Pirâmide –, datado de há 4.600 anos. A embarcação, com 43 metros de comprimento, foi descoberta na década de 1950 e, em 2021, transferida do seu local original, junto às pirâmides, para o novo museu, através de um veículo teleguiado importado da Bélgica.
O GEM reúne perto de cinco mil peças do espólio do faraó TutankhamonAP Photo/Amr Nabil
O governo egípcio deposita grandes expectativas no impacto do museu sobre o turismo, um dos pilares da sua economia. O setor sofreu uma forte contração após a revolta de 2011 e voltou a ser afetado pela pandemia e pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos principais países de origem dos visitantes do Egito.
Segundo dados oficiais, 15,7 milhões de turistas visitaram o país em 2024, e o objetivo é atingir os 30 milhões até 2032. Para tal, foram modernizadas as vias de acesso, construída uma estação de metro junto à entrada principal e inaugurado o Aeroporto Internacional de Sphinx, a cerca de quarenta minutos do local.
De acordo com Hassan Allam, diretor da empresa responsável pela operação do museu, esperam-se entre 15 e 20 mil visitantes diários. “O mundo inteiro aguardava este momento”, declarou. “O Egito tem finalmente um museu à altura da sua história.”