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Oppenheimer ainda não tem estreia prevista no Japão, onde caíram as bombas

Filme não inclui perspetiva das vítimas da bomba atómica, o que foi defendido pelo realizador. Mais de 200 mil pessoas morreram em Hiroshima e Nagasaki.

Andreia Antunes com Leonor Riso 01 de agosto de 2023 às 09:40
https://youtu.be/bK6ldnjE3Y0
Trailer de Oppenheimer

O filme Oppenheimer pode estar a ser um sucesso de bilheteira em vários países, mas ainda nem tem data de estreia marcada no país mais afetado pela sua história: o Japão.

Um porta-voz da distribuidora de filmes do Japão, a Toho-Towa, adiantou à revista Variety que a "decisão de mostrar ou não Oppenheimer no Japão deve-se provavelmente ao tema do filme". "O filme é sobre o desenvolvimento da bomba atómica na II Guerra Mundial, e é possível que alguns públicos japoneses pensem que o tema é demasiado sensível."

Oppenheimer relata a história do físico J. Robert Oppenheimer e o processo da criação da bomba atómica, que caiu em 1945 nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, marcando um dos pontos mais importantes para o fim da II Guerra Mundial. Matou mais de 200 mil pessoas.

O realizador do filme, Christopher Nolan, argumentou que Oppenheimer se centra apenas na experiência e na perspetiva do cientista. O filme não mostra os bombardeamentos nem as suas consequências, eliminando a perspetiva das vítimas.

"É verdade que estas instituições que estão em posições de poder, posições de influência, dão mais valor a histórias de homens como Oppenheimer e Truman, do que às comunidades asiáticas e indígenas que sofreram por causa das decisões que esses homens tomaram", refere Nina Wallace, diretora de comunicação da associação Densho, que se dedica à memória dos nipo-americanos, desenvolvendo iniciativas por exemplo sobre os descendentes de japoneses presos durante a II Guerra nos EUA.

De acordo com o canal norte-americano NBC, o realizador não representou a destruição ou as vítimas porque "afastar-se da experiência de Oppenheimer seria trair os termos da narrativa". "Ele soube dos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki pela rádio tal como o resto do mundo", disse Nolan à MSNBC. "Tudo é a sua experiência, ou a minha interpretação da sua experiência porque não é um documentário, é uma interpretação, esse é o meu trabalho."

Nina Wallace disse que não cabe a Oppenheimer mostrar a perspetiva japonesa, nem o filme deve ser visto como um "recurso histórico factual". "Nolan, um realizador branco, não é provavelmente o artista adequado para realçar com sensibilidade as experiências dos hibakusha", nome dado aos sobreviventes da bomba atómica.

Stan Shikuma, co-presidente da Secção de Seattle da Liga dos Cidadãos Nipo-Americanos, referiu à NBC que "as salas de espetáculo e Hollywood não podem ser totalmente abrangentes… Mas penso que também revela a falta de iniciativas ou perspetivas não-brancas e não-americanas". "Essa falta de uma perspetiva mais global permite que as atrocidades continuem a acontecer porque continuamos a desumanizar outras pessoas que não conhecemos", frisa.

O filme foi baseado na biografia American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer, e mostra-nos o papel do físico como diretor do laboratório de armamento em Los Alamos, Estados Unidos, como parte do Projeto Manhattan, o esforço ultrassecreto dos norte-americanos para criar a primeira bomba atómica. Oppenheimer tem sido anunciado como uma contemplação sobre os dilemas morais enfrentados pelos cientistas.

Os Estados Unidos lançaram o primeiro ataque nuclear contra a cidade de Hiroshima a 6 de agosto de 1945 e, três dias depois, lançaram a segunda bomba atómica sobre Nagasaki. O Japão rendeu-se a 15 de agosto, pondo fim à Segunda Guerra Mundial.

A criação de Oppenheimer levou à morte de mais de 200 mil pessoas. Nos dias de hoje, continua a sentir-se as consequências da bomba, tanto ambientais como humanitárias. 

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