Clube deixou de pagar a jogadora grávida. Ela fez queixa e ganhou
Sara Björk Gunnarsdóttir contou a sua história num artigo. FIFA obrigou Olympique Lyonnais a pagar os valores em falta.
A futebolista islandesa Sara Bjork Gunnarsdóttir venceu o processo que interpôs contra o seu antigo clube, o Olympique Lyonnais, por falta de pagamento durante a gravidez. A jogadora de 32 anos avançou contra o clube por não lhe ter pagado o seu salário enquanto esteve grávida, anunciou o sindicato FIFPRO esta terça-feira, 17.
A decisão remonta a agosto, e obrigou o clube a pagar o montante em falta a Sara Bjork Gunnarsdóttir: cerca de 82 mil euros. O clube ainda tentou recorrer, mas decidiu acatar a decisão e cumpri-la em 45 dias.
De acordo com o sindicato, trata-se da primeira decisão neste sentido desde que entraram em vigor as novas regras acerca da maternidade impostas pela FIFA.
"Eu tinha direito ao meu salário total... Faz parte dos meus direitos, e não pode ser posto em causa, nem por um clube tão grande quanto o Lyon", escreveu a jogadora, que ficou grávida no início de 2021, num artigo no site The Players' Tribune.
"Isto não é só um negócio. É sobre os meus direitos como trabalhadora, mulher e ser humano", defende a média.
No artigo, a jogadora islandesa relata que o seu primeiro pensamento ao saber que estava grávida foi como iria reagir a sua equipa. Contou primeiro ao médico da equipa, e só quando vomitou três vezes na véspera de um jogo importante, é que revelou o que se passava às colegas.
No dia de um jogo com o PSG, a atleta disse ao treinador que não podia entrar depois do intervalo, como lhe tinham pedido. "Eu sabia que tinha que contar a verdade às minhas companheiras de equipa. Senti que neste clube, a este nível, se não conseguisse treinar a 100% não devia estar a treinar. Então, cerca de uma semana depois, contei a todos. Estávamos sentados no vestiário, toda a equipa. O diretor, membros da equipa, fisioterapeutas, estavam todos lá. E eu apenas disse que me estava a sentir mal nas últimas semanas porque, sim…. Estou grávida", diz na carta.
O clube assinalou a notícia nas redes sociais e Sara Bjork Gunnarsdottir foi para a Islândia passar a gravidez. O clube concordou e a jogadora pretendia voltar depois do parto.
Contudo, apercebeu-se na Islândia que não estava a receber o seu vencimento, mas sim o valor da Segurança Social. O pagamento errado repetiu-se e o clube não respondeu às tentativas de contacto da jogadora, que recorreu às poupanças para pagar um treinador e manter-se em forma.
Sara Bjork Gunnarsdóttir, que também é capitã da seleção islandesa, diz que ponderou deixar o futebol e que se sentiu "abandonada", mas sabia estar protegida pelas novas leis da FIFA.
Estas novas leis preveem, por exemplo, uma licença de maternidade mínima de 14 semanas, das quais pelo menos oito devem seguir-se ao nascimento do bebé. Em relação ao salário, garantem o pagamento de dois terços, no caso de a legislação nacional ou contrato coletivo de trabalho não estabelecerem um valor mais elevado.
Já depois do parto, a jogadora decidiu apresentar queixa junto da FIFA. Diz ter sido ameaçada pelo director desportivoVincent Ponsot: "Se a Sara for para a FIFA com isto, não terá futuro no Lyon, de todo", disseram-lhe.
A jogadora foi impedida de levar o filho para os jogos fora de Lyon. "Eles fizeram-me sempre sentir como se fosse negativo ter tido um bebé. Decidi avançar com a queixa, o director desportivo disse-me que não era pessoal, apenas negócio", conta.
O clube acabou vencido. "A vitória foi maior do que eu. Serve como uma garantia de segurança financeira para todas as jogadoras que queiram ter um filho durante a carreira. Queria garantir que ninguém passava pelo que passei. E queria que o Lyon soubesse que não está certo. Isto não é só negócio. Isto é sobre os meus direitos como trabalhadora, como mulher e ser humano. Merecemos melhor", escreveu.
"Damos os parabéns à Sara Björk Gunnarsdóttir pela queixa bem-sucedida contra o Olympique Lyonnais por o clube não ter pagado a totalidade do salário durante a gravidez", escreveu o sindicato FIFPro numa publicação nas redes sociais.
Agora, Sara Björk Gunnarsdóttir joga na Juventus. Chegou em julho de 2022 e tem contrato até 2024.
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