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Lipedema, a doença que afeta 1 milhão de mulheres em Portugal

Sofia Parissi 11 de junho de 2025 às 07:00

O Dia Mundial do Lipedema celebra-se esta quarta-feira, 11 de junho, e o Instituto Português do Lipedema está a organizar rastreios gratuitos, em Lisboa. Falámos com especialistas sobre os sintomas, o diagnóstico e o tratamento desta doença.

Os sintomas de Cláudia Vicente apareceram por volta dos 14 anos, mas o diagnóstico do lipedema só chegou 31. "Nunca tive excesso de peso e sempre fui magra da cintura para cima, mas cheguei a ter três números acima da cintura para baixo", explica à SÁBADO a psicóloga do Instituto Português do Lipedema, que também é  paciente. Apesar do aumento do volume nas pernas e das dores fortes que sentia, Cláudia chegou a atribuir os sintomas à "má circulação" e a acreditar que "as pessoas viviam simplesmente assim". 

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A doença crónica afeta cerca de 1 milhão de mulheres em Portugal e cerca de 20% da população mundial feminina, mas é frequentemente confundida com obesidade, retenção de líquidos ou linfedema. Apesar de afetar maioritariamente as mulheres, também pode afetar homens e caracteriza-se pela proliferação excessiva e patológica de células de gordura [adipócitos], sobretudo na parte inferior do corpo. Por essa razão, também é conhecida como doença das "pernas gordas".

Cláudia Vicente foi diagnosticada pelo médico Olivas Menayo, especialista em cirurgia plástica e reparadora, e fundador do Instituto Português do Lipedema. À prevalência de diagnósticos tardios, o médico atribui o desconhecimento em relação à doença por parte de médicos e profissionais de saúde. "Quando alguma paciente se queixa de dor nas pernas, os médicos deviam pensar nesta doença e não simplesmente na parte vascular. Tenho pacientes que foram operadas ao joelho, porque pensavam que se tratava de uma dor articular".

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Além dos sintomas já referidos, o médico adianta que as investigações em curso também estão a identificar alterações ginecológicas, da tireóide, intestinais e deficiência de ferro nas pacientes. "A solução passa, sem dúvida, pela formação dos médicos", diz à SÁBADO o fundador do Instituto Português do Lipedema.

O médico especialista alerta ainda para a possibilidade do diagnóstico tardio levar ao desenvolvimento de outras doenças como dismorfofobia, distúrbios alimentares e obesidade. "Temos muitas pacientes que deixam de comer ou ficam obcecadas com o desporto, por não conseguirem emagrecer nas pernas". 

Além disso, a doença tem uma grande prevalência na adolescência e, por essa razão, Cláudia Vicente refere a importância do acompanhamento psicológico: "É nessa altura que começam a acontecer, em termos do neurodesenvolvimento, alterações importantes nas relações interpessoais e na relação com o próprio corpo". No caso das mulheres com lipedema, "essa alterações extrapolam aquilo que é esperado".

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O tratamento

Apesar da doença não ter cura, existe um tratamento multidisciplinar que engloba nutrição, fisioterapia, tratamento desportivo e cirurgia. "A cirurgia tem várias peculiaridades, nomeadamente a utilização de uma tecnologia muito avançada para conseguir uma extração de uma forma menos agressiva para o corpo, portanto, minimizando a perda sanguínea e minimizando o dano nos tecidos que estão à volta da gordura que estamos a retirar", explica Olivas Menayo.

E acrescenta: "Depois utilizamos outra tecnologia para fazer uma retração, porque quando tiramos volumes muito altos, há sempre risco de ficar com uma flacidez excessiva". A cirurgia apresenta mais-valias, nomeadamente em termos de proporcionalidade e melhoria no aspeto da qualidade de vida, mas não é definitiva. "Sou um dos casos em que no pós-operatório tinha menos dores do que quando vivia sem diagnóstico", garante Cláudia, que foi operada em 2021.

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No entanto, por se tratar de uma doença crónica, é sempre necessária a manutenção e cuidados no que diz respeito à dieta, desporto e descanso. Além disso, "cada paciente que é diagnosticada com lipedema e que faz a cirurgia de tratamento, tem sempre uma consulta de psicologia. Fazemos sempre uma primeira abordagem sobre o que é receber um diagnóstico de uma doença crónica, que vai exigir cuidados para a vida", detalha a psicóloga.

No âmbito do Dia Mundial do Lipedema, que se celebra esta quarta-feira, a 11 de junho, o Instituto Português do Lipedema está a organizar rastreios gratuitos, em Lisboa, mediante inscrição. Os rastreios, que vão ser realizados hoje e no próximo dia 25 de junho, incluem observação e scan corporal, e ecografia à base de IA (Inteligência Artificial), feitos pelos especialistas do instituto.

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