Foi com Daniel Ramos que me estreei. Foi com o novo treinador do Marítimo que, na época 2008/09, comecei a conhecer o mundo do futebol profissional português. Eu em início de carreira, acabadinho de ter o canudo na mão e com um conhecimento do jogo que se restringia à bancada e a muitas edições dos mais variados vídeo jogos sobre futebol; ele ao leme de um Gondomar que acabaria por ficar na última (!) posição da 2ª Liga naquela época para não mais voltar.As sensações que tivemos ao longo daquela temporada foram, como se percebe, bastantes distintas, pois o meu entusiasmo esbarrava nos poucos motivos para sorrir que Daniel Ramos ia tendo aos fins-de-semana. Mas nem por isso o técnico se negou a ir conversando sobre a equipa, sobre os jogos, sobre o futebol como um todo, ajudando-me, enfim, a perceber um pouco daquele que daí até hoje foi sempre o meu mundo profissional.Ora, não me levem então a mal por ter sorrido perante a notícia de que seria o míster a assumir o comando do Marítimo, após a saída de Paulo César Gusmão, pois em mim ficou algo daquela época, possivelmente um rascunho de agradecimento.Serve esta contextualização para abordar - e pensar um pouco sobre - a tomada de decisões no futebol português, escolhas nem sempre não tão esclarecidas como deveriam ser. As explicações que Carlos Pereira, presidente dos insulares, deu na semana passada sobre a mudança técnica não deixam de ser sui generis. "O Daniel Ramos esteve para vir para cá no início da época. Optei, e toda a responsabilidade é minha, por um treinador mais experiente. Era o Daniel que devia cá estar, não devia ter alterado a minha linha de orientação, mas corrigi a tempo", disse Carlos Pereira.Desde aquela época, em que acompanhei o mais de perto que me foi possível o Gondomar de Daniel Ramos, até hoje, deu para perceber que muitas das decisões que deveriam ser altamente ponderadas no futebol profissional português, desde a aprovação de regulamentos até à constituição de plantéis, na verdade, não o são.Há ainda um lado muito amador - no sentido negativo do termo -, muito avulso, volátil e sujeito a pressões, na tomada de algumas decisões basilares, quer ao nível dos clubes, das competições e dos organismos. Ninguém é infalível e o erro faz parte da vida - até do futebol na sua essência -, mas a evolução também.O futebol de 'ilhas' que existe no nosso país, em que cada um quer viver e, se possível, sobreviver sozinho; o futebol sujeito a interesses pouco ou nada razoáveis de agentes exteriores ao fenómeno; o futebol que olha para os bons exemplos além fronteiras e nada aprende; é um futebol que não irá evoluir. E é pena.P.S.: Para si, míster, parabéns! E obrigado.
