Secções
Entrar

Covid-19: Deve procurar-se "o equilíbrio entre a proteção e a necessidade de viver"

10 de outubro de 2020 às 20:12

Portugal registou cinco mortos e 1.646 novos casos de infeção nas últimas 24 horas, o maior número desde o início da pandemia, em março.

O antigo diretor-geral da Saúde Constantino Sakellarides destaca a importância de se fazer uma análise dos dados regionais e locais, e não apenas nacionais, para perceber o que está a acontecer na segunda vaga da covid-19.

"Temos de passar destes números (...) nacionais para uma análise mais detalhada, não só da evidência regional e local, mas das características de transmissão. Isso é particularmente importante neste momento", defende o professor catedrático de Saúde Pública, em declarações telefónicas à agência Lusa.

Portugal registou hoje o maior número de casos de infeção com o novo coronavírus desde o início da pandemia, em março, e o número de novos casos no país situou-se acima dos mil pelo terceiro dia consecutivo.

"Nestas circunstâncias, é muito importante não realizar só números nacionais, mas utilizar a situação regional e local", frisa Constantino Sakellarides, realçando que "o equilíbrio entre a proteção e a necessidade de viver" tem de ser buscado numa análise abrangente.

O especialista não prevê um novo confinamento geral nacional, mas antecipa "a necessidade de fazer restrições a nível limitado, local, de vários tipos".

Ora, a intervenção nas regiões com mais casos não pode ser baseada "nos somatórios nacionais", porque o retrato que traçam "é muito incompleto e muito pouco elucidativo em relação ao que é preciso fazer", frisa o professor.

"Uma coisa é um somatório nacional, outra coisa é a situação local e regional e as características dessa transmissão. É isso que nos permite defendermo-nos, mais ou menos, equilibrar melhor esta balança entre a proteção e a necessidade de continuarmos a viver", insiste.

"Este agravamento em Portugal está em linha com o que está a acontecer na Europa Ocidental e na Europa Central", observa Constantino Sakellarides. "Temos de olhar à volta", recomenda.

"Os agravamentos [em Portugal] são regionais e locais, não há uma homogeneidade nacional", sublinha, acrescentando ainda que os países não estão a revelar o mesmo fenómeno "ao mesmo tempo".

Portanto, é preciso contextualizar os números e também analisá-los em função do que se passa nos países em redor de Portugal.

Reconhecendo que parece estar a verificar-se "uma aceleração" da segunda vaga da pandemia, à entrada no mês de outubro, o especialista nota que estas evoluções são "assíncronas, têm tempos diferentes", nos vários países da Europa.

"Não temos padrão para saber como vai evoluir de facto", admite o antigo diretor-geral da Saúde. "O capital de conhecimento acumulado sobre pandemias é muito pequeno e nunca [houve] uma pandemia de coronavírus. Sabemos muito pouco e, portanto, as nossas expectativas são frequentemente equivocadas. Esperávamos todos pelo outono/inverno e, no fim do verão, ou no pico do verão, tivemos o início da segunda onda", observa.

"Não somos capazes de prever" como esta pandemia vai evoluir, reflete, recordando que no verão pensava-se que os casos iam diminuir e que depois, quando o tempo arrefecesse e as pessoas ficassem mais em casa, iriam aumentar. "Agravou-se muito antes, em pleno verão. Em Espanha, foi notório", assinala.

Portugal registou cinco mortos e 1.646 novos casos de infeção nas últimas 24 horas, o maior número desde o início da pandemia, em março.

Portugal já registou 2.067 mortes e 85.574 casos de infeção, estando hoje ativos 30.704 casos, mais 1.002 do que na sexta-feira.

A DGS indica que, das cinco mortes registadas nas últimas 24 horas, duas ocorreram na região de Lisboa e Vale do Tejo, duas na região Norte, onde agora se verifica o maior número de infeções (na sexta-feira liderava Lisboa), e uma no Algarve.

Relativamente aos internamentos hospitalares, o boletim revela que estão internadas 831 pessoas (mais 20 nas últimas 24 horas), das quais 122 em cuidados intensivos (menos três em relação a sexta-feira).

O número de recuperados aumentou para 52.803 (mais 639 do que na sexta-feira).

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela