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Mariana Sottomayor
07.03.2021

Carta aberta a todos os habitantes do território português!

O momento é de reflexão se queremos sair do buraco profundo em que caímos e passar a controlar a pandemia, em vez de ser controlados brutalmente por ela!

Pedindo-se especial atenção por parte de todos quantos têm responsabilidades na gestão da pandemia e especialíssima atenção por parte dos seus responsáveis máximos em Portugal, o Exmo. Sr. Primeiro Ministro e o Exmo. Sr. Presidente da República!

Caríssimas Concidadãs e caríssimos Concidadãos:

Uma pandemia não se gere com bonomia!

Uma pandemia não se gere com otimismo bacoco!

Uma pandemia não se gere segundo princípios políticos!

Uma pandemia não se gere segundo princípios economicistas!

Uma pandemia gere-se, antes de tudo e acima de tudo, segundo PRINCÍPIOS SANITÁRIOS!

Uma pandemia TEM que ser gerida segundo PRINCÍPIOS DE COMUNICAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DE MASSAS!

Uma pandemia TEM que ser gerida com base em PRINCÍPIOS DE RACIONALIDADE LÓGICA!

A luta contra uma pandemia joga-se sobretudo na ANTECIPAÇÃO e na PREVENÇÃO!

E para que tudo isto seja feito com competência, profissionalismo e sucesso, são necessárias FORÇAS ANTI-PANDEMIA (FAP) multidisciplinares especializadas!

O momento é de reflexão se queremos sair do buraco profundo em que caímos e passar a controlar a pandemia, em vez de ser controlados brutalmente por ela! Para não voltarmos e ver cidadãos a morrer numa fila de ambulâncias à porta de um hospital, enquanto muitos outros se encontram em casa a cavar paulatinamente a sua sentença de morte em vez de serem tratatos! Para não voltarmos a ser obrigados a um confinamento severo que lança famílias na miséria e cava a ruína do país! Temos que compreender o que correu mal e porque é que correu mal, doa a quem doer! Para podermos corrigir o muito que há a corrigir e implementar de uma vez por todas um plano eficaz de combate à pandemia. Que permita uma vida segura, a máxima atividade económica possível, e uma situação minimamente estável e previsível.

O que correu mal?
Porque é que chegamos em janeiro de 2021 ao pódio mundial de novos casos e MORTES, com rutura do SNS, mais de um ano depois de a pandemia ter começado o seu caminho de destruição, e já estarmos carecas de saber que este vírus funciona como uma BOMBA-RELÓGIO? Por muitas e variadas razões, entre as quais de forma notória:

1) Devido à incompetência da DGS, pública e evidente desde o primeiro instante (aqui,aqui, ouaqui). Mas como não se mudam generais (e porque a subserviência da DGS foi sempre extremamente conveniente para o Governo), tivemos que gramar com a sua incapacidade e irresponsabilidade até chegarmos onde chegamos!

2) Devido à incapacidade da DGS e do Governo em reconhecer que uma pandemia era um desafio que ultrapassava as competências instaladas, sendo essencial um reforço imediato de capacidades da DGS e SNS, e a adição de competências inexistentes, nomeadamente a nível científico e de comunicação.

3) Devido à subserviência da DGS ao Governo, que fez com que esta deixasse sistematicamente que os princípios sanitários fossem para o galheiro, e que fossem princípios políticos e economicistas a ditar decisões que deveriam ser estritamente sanitárias! Quantas vezes ao ouvir a DGS mais parecia estarmos a ouvir um papagaio do Governo?

4) Devido a um Governo e Primeiro-Ministro que misturaram de forma fatídica princípios sanitários com princípios políticos, tomando decisões que permitiram a livre circulação do vírus, e emitindo continuamente normas comportamentais incoerentes e pouco credíveis, além de comunicadas de forma extremamente pobre e ineficaz.

5) Devido a um Governo e Primeiro-Ministro reféns de fórmulas baseadas em DESEJOS proferidos continuamente como se fossem uma oração protetora: "não podemos confinar", "não podemos fechar as escolas", "não podemos fechar a restauração". Ao contrário de estarem atentos aos números e evolução da pandemia e tomarem as medidas necessárias, ponto! Ao contrário de tomarem em atenção que este vírus se dissemina subrepticiamente antes de explodir e que a única proteção, nomeadamente para a economia, é apostar na PREVENÇÃO!

6) Devido a um Governo e Primeiro-Ministro que não souberam acautelar o REFORÇO ANTECIPADO e consequente dos meios e recursos humanos do SNS e da Saúde Pública, nem mesmo o estabelecimento atempado de parcerias com os serviços privados de saúde, que deveriam ter sido negociadas logo na primeira vaga!

7) Devido a um Presidente da República coladinho ao Primeiro-Ministro, como quem se protege do frio com base na partilha do calor corporal, proferindo variantes das mesmas orações deste, e justificando sistematicamente o mau desempenho do Governo na gestão da pandemia.

O que precisamos?
Uma pandemia é um desafio brutal que implica o controlo da propagação de uma doença altamente contagiosa no seio de uma população de milhões de pessoas, ao mesmo tempo que exige a adaptação e maximização da resposta dos meios de Saúde, assim como a definição do que é COMPATÍVEL, em termos de normalidade da vida económica e social, com o controlo da disseminação da doença.

Trata-se, portanto, de um desafio operacional altamente complexo e multifacetado, que exige um conjunto de competências inter-atuantes que NÃO EXISTEM nos Governos e Agências do Estado, como está patente no caos instaurado pela pandemia em quase todos os países. Logo, uma pandemia não pode ser gerida com a prata da casa, que não poucas vezes nem competente é para desempenhar as suas funções correntes, quanto mais para enfrentar os desafios totalmente novos e complexos de uma pandemia!

A gestão de uma pandemia faz-se com uma força operacional altamente especializada, multidisciplinar e desenhada especificamente para o efeito! Sem quaisquer influências políticas, amiguismos ou "conhecidismos". Baseada única e exclusivamente na competência, profissionalismo e pragmatismo. Autónoma e despida de qualquer promiscuidade com o poder político. Não se está a falar de um conselho consultivo de especialistas convocados ad hoc. Está-se a falar de uma equipa profissional multidisciplinar capaz de fazer a montagem de uma mega-operação de guerra sem quartel ao vírus, em todas as frentes! Ou seja, precisamos de uma espécie de Forças Armadas para guerras sanitárias: as FORÇAS ANTI-PANDEMIA - FAP! Para agora e para o futuro, porque as ameaças pandémicas não se vão esgotar com a COVID-19!

E quais as tarefas das FAP? As principais, e que emanam do óbvio, são pelo menos as que se seguem.

1) Definição de níveis de medidas de contenção da circulação do vírus baseadas em PRINCÍPIOS SANITÁRIOS claros e racionais, e com fundamentação devidamente explicada à população. Há cuidados e alertas para certos comportamentos que nunca foram dados e que estão na base da explosão do vírus. Casos gritantes de falta de alerta são os momentos da refeição, do café e do fumar, tudo momentos que permitem a livre circulação do vírus entre pessoas. As medidas de contenção têm que ser baseadas, acima de tudo, no fecho e abertura doseada do círculo de transmissão em que se insere cada pessoa (ver artigo "O princípio perdido"). Mais uma vez, tudo com fundamentação devidamente explicada à população.

2) Definição de níveis de risco/alerta consoante a incidência do vírus e a pressão sobre o SNS. Os níveis de risco têm que ser fundamentados em modelos validados de progressão das curvas epidemiológicas e em indicadores objetivos e validados dessa progressão, tais como os resultados de testagens cegas, a % de testes positivos com consideração dos critérios de testagem do momento, etc. Cada nível de risco deverá ativar automaticamente o nível respetivo de medidas de contenção, originando um agravamento ou um relaxamento das medidas, sempre dentro de uma janela de segurança. Fomos antes vítimas de sobre-relaxamento das medidas e estamos agora a ser vítimas de sobre-agravamento de medidas - é o 8 ou 80, e a continuação do desgoverno da pandemia! Com organização racional, lógica e devidamente fundamentada, tudo isso se pode evitar.

3) Criação de um OBSERVATÓRIO NACIONAL DA PANDEMIA em tempo real, de elevada resolução e altamente fiável, integrando os resultados de todos os tipos de programas de testagens, que devem ser ampliados e diversificados, passando a incluir, nomeadamente, testagens cegas. Esse Observatório permitirá a identificação inteligente e precoce dos níveis de risco/alerta, e a implementação dos respetivos níveis de medidas de contenção de forma devidamente doseada ao risco existente e customizadas para cada circunscrição regional.

4) Implementação de uma mega operação de COMUNICAÇÃO, clara, consistente, continuada e credível: i) que forme/informe as pessoas devidamente sobre o que é um vírus, como a sua propagação está totalmente dependente de nós, e está, por isso, totalmente nas nossas mãos impedir o seu caminho mortal; ii) que explique e fundamente cada medida e comportamento pedido; iii) que veicule de forma humana, empática e convincente a necessidade ou possibilidade de cada mudança de nível de medidas e comportamentos anti-disseminação; iv) que faça campanhas inteligentes e empáticas de mobilização das pessoas para os comportamentos necessários, não baseadas no medo, mas no convocar do bem comum e da solidariedade humana.

5) Monitorização constante de todas as novas publicações científicas sobre o SARS-CoV-2 e a COVID-19, realizada por cientistas experientes e especializados nas diferentes áreas implicadas, nomeadamente na biologia celular e molecular. Para que todas as medidas e critérios utilizados na gestão da pandemia possam ser continuamente modelados pela evolução do conhecimento científico. Terão que ser realmente cientistas a fazer esta monitorização, para que saibam reconhecer devidamente as limitações e matizes das conclusões de cada estudo, e sejam evitadas as transferências imediatas e totalmente desproporcionadas que temos visto das conclusões de estudos científicos para decisões na gestão da pandemia, com resultados desastrosos.

Ação imediata!
Não é tempo de chorar sobre leite derramado ou ficar refém de recriminações. O que venho pedir, e que acho que todos nós, habitantes deste pequeno território à beira-mar plantado deveríamos pedir, para não dizer exigir, é que quem tem poder compreenda onde errou e perceba de uma vez por todas o que é necessário fazer. Que uma situação desta complexidade tem que ser gerida com profissionalismo e não com medidas avulsas, a ver se dá, ou com ferrolhos de cima a baixo depois da desgraça! Façamos isto como verdadeiramente dita a razão, a reflexão e a lógica, e poderemos mostrar ao mundo como se desce aos infernos para se sair de lá com uma lição para todos.

Muita saúde para todos e morte ao vírus*!

Mariana Sottomayor
Cidadã portuguesa em plena posse das suas capacidades mentais de raciocínio lógico o que lhe origina indomáveis angústias e raivas (;)) nestes tempos de obscurantismo racional que tem dado caminho livre à MORTE!

*Basta colocar a máscara, sempre, exceto em casa. A lógica é: se o vírus chegar aqui, às minhas entranhas, daqui não passa! Vai morrer aqui mesmo, não vai infetar mais ninguém! Se TODOS procedêssemos assim, dávamos cabo do vírus no território nacional em pouco mais de 3 semanas.

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