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Irina Golovanova
Irina Golovanova Especialista em comunicação não verbal
07 de abril de 2024 às 10:00

A primeira impressão do novo Governo

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Edição de 5 a 11 de agosto

Em que é que reparamos primeiro quando conhecemos alguém? Na postura. Pudemos observar a postura tanto na cerimónia da tomada de posse como na fotografia oficial, partilhada no site do Governo.

O novo Governo tomou posse há dois dias e já está no centro das atenções de todos os portugueses. Pode parecer injusto, mas não podia ser de outra forma. Não só porque é um Governo que surge em condições muito especiais, e pouco habituais na nossa democracia – dissolução do Parlamento pelo Presidente da República – mas também porque há uma curiosidade natural em sabermos quem vai governar o País nos próximos anos, quem é quem nos diferentes ministérios e que primeiras impressões nos transmitem os novos ministros… Algumas figuras do XXIV Governo já conhecemos bem, outras nem tanto, mas a partir do dia 2 de abril todos assumiram novas funções e ganharam uma nova oportunidade – uma oportunidade para se afirmarem enquanto ministros.  

Em que é que reparamos primeiro quando conhecemos alguém? Na postura. Pudemos observar a postura tanto na cerimónia da tomada de posse como na fotografia oficial, partilhada no site do Governo. A impressão que ficou foi a mesma em ambas as ocasiões: organizados na forma de estar, formais no vestuário e também na postura — parecem uma equipa. Na tomada de posse o processo aparentou-se fluído: todos pareciam saber o que ler e onde assinar, que posição ocupar e movimentaram-se com naturalidade. A disponibilização de dois microfones e a ausência de máscaras contribuíram para evitar a confusão a que assistimos em 2022, gerada pela correção constante do microfone e a retirada das máscaras. 

A fotografia oficial do novo Governo voltou a demonstrar o mesmo: os vários membros organizados em linhas, com o cuidado de manter a simetria na distribuição de mulher-homem em cada linha e também de cada um ter o seu espaço. A fotografia ficou perfeita? Nem por isso. Por exemplo, na última fila a ordem "homem-mulher-homem" foi quebrada pela Ministra da Cultura que ficou do lado direito (terá sido uma solução estética para evitar dois casacos cinzentos juntos?). Além disso, nem todos olham para a câmara (o que é fácil de explicar pela presença de várias câmaras ao mesmo tempo) – acreditando que escolheram a melhor fotografia da sessão, é provável que não tenha havido uma fotografia em que todos estivessem a olhar para o mesmo sítio. Isso é mau? Não é o ideal. As más-línguas dirão que nem na fotografia oficial conseguiram estar todos coordenados. 

O facto de os ministros estarem afastados uns dos outros na fotografia oficial gerou alguma polémica. É verdade, a distância entre os vários elementos é assinalável. Mas é sempre uma questão da interpretação: é um afastamento ou uma forma de dar espaço a cada um dentro da equipa? Eu apostava na segunda versão: vejo uma equipa em que cada um tem o seu espaço. 

Uma sessão fotográfica é sempre aquele momento em que o problema "O que fazer às mãos?!" se torna mais presente do que nunca. Mas foi bem resolvido. A postura protocolarmente correta é manter os braços ao longo do corpo e foi isso que a maioria dos ministros fez, começando pelo próprio Primeiro-Ministro. É uma postura confortável? Nada. Mas é uma posição que demonstra abertura e transmite confiança. Quem optou por colocar as mãos à frente do corpo não fez mal, tornou-se apenas "mais pequeno", menos visível. Se o objetivo era esse, fizeram bem. Mas fica uma questão "Porquê?!". Quem não passou despercebido foi o Ministro Adjunto e da Coesão Territorial, apesar de ser o último do lado direito na primeira fila, tudo por causa da postura. Ao colocar as mãos atrás das costas deixou a frente do corpo à vista, o que demonstra ser alguém com grande confiança nele próprio e no que aí vem. Apenas o Ministro da Educação, Ciência e Inovação optou por ficar de braços cruzados e não foi a melhor opção. 

No que se refere à roupa que escolheram, o contraste com 2022 é enorme. Na tomada de posse, o colorido do anterior Governo deu lugar aos tons formais. Os homens optaram maioritariamente por fatos escuros e as mulheres pela combinação de branco e preto — o contraste que aumenta a perceção de poder. Se foi uma escolha consciente, não sabemos, mas ficou bem. Na fotografia oficial os novos ministros mantiveram a formalidade da tomada de posse — apostaram no azul como cor principal e foi uma boa escolha. É uma cor que transmite competência e segurança, é uma cor apreciada tanto pelas mulheres como pelos homens e independentemente da idade. O casaco vermelho da Ministra da Justiça garantiu-lhe um destaque na fotografia e o verde da Ministra de Juventude sublinhou a sua juventude e deu-nos a todos uma sensação de esperança. 

Até a escolha de canetas deste Governo foi muito mais uniforme em comparação com o anterior. Um pequeno detalhe, até porque não é necessário os ministros levarem canetas para a cerimónia, há duas canetas "oficiais" na mesa para o efeito. Mas, tal como em 2022, a maioria optou por levar uma caneta própria e muito especial, para estar à altura do evento, também ele especial. E nesse contexto foi possível notar o gesto da Ministra da Juventude, que, ao regressar ao seu lugar, emprestou a sua caneta ao Ministro de Agricultura, para ele poder assinar a pasta com uma caneta bonita. Foi uma tentativa de manter o padrão? Um momento de espírito de equipa? Ou apenas uma ajuda para o colega também ficar bem no registo histórico desse momento tão importante? 

Resumindo: um Governo com imagem organizada, formal e, sem dúvida, muito diferente da do anterior. Se conseguirem manter esta organização e o espírito de equipa na governação, ganharemos todos.

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