Sábado – Pense por si

Ana Bárbara Pedrosa
Ana Bárbara Pedrosa
30 de julho de 2024 às 07:00

Eu não interesso a ninguém

É certo que a rejeição dói a toda a gente, mas fazer da literatura um divã transforma o leitor num psicólogo, numa coisa amorfa, e sobretudo diminui, ao invés de engrandecer, o papel do criador, não só porque abdica do dever e do prazer de criar, mas principalmente porque passa a não ter nada para dar ao leitor além de si mesmo.

Sempre me impressionou o interesse espoletado pelapersonados autores. Um gajo qualquer escreve um livro. Pegando-lhe, o leitor mete-se numa cabeça, que em geral até é outra coisa – outra inventada sem sabor de realidade. Aqui e ali, claro que qualquer autor vai beber qualquer coisa à vida. Será sempre mais fácil descrever uma rua onde se pousou os pés. Mas, a torto e a direito, é normal que a escrita seja uma viagem, uma busca, um voo para parte incerta. Será a coisa mais parecida com a paixão: primeiro, há uma luz que desperta; a seguir, um fogo que incendeia; volvem-se minutos e não há mais nada à nossa volta; e invariavelmente morre. Escrever um romance é sujar e limpar a vida ao mesmo tempo.

Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login

Assinatura Digital SÁBADO GRÁTIS
durante 2 anos, para jovens dos 15 aos 18 anos.

Saber Mais
Bons costumes

Um Nobel de espinhos

Seria bom que Maria Corina – à frente de uma coligação heteróclita que tenta derrubar o regime instaurado por Nicolás Maduro, em 1999, e herdado por Nicolás Maduro em 2013 – tivesse melhor sorte do que outras premiadas com o Nobel da Paz.

Justa Causa

Gaza, o comboio e o vazio existencial

“S” sentiu que aquele era o instante de glória que esperava. Subiu a uma carruagem, ergueu os braços em triunfo e, no segundo seguinte, o choque elétrico atravessou-lhe o corpo. Os camaradas de protesto, os mesmos que minutos antes gritavam palavras de ordem sobre solidariedade e justiça, recuaram. Uns fugiram, outros filmaram.