Dois eventos no Porto, um objetivo: pôr o vinho nas bocas do mundo
No último fim de semana de fevereiro, o Porto vai ser capital do vinho: de 23 a 26 acontece o Essência do Vinho e nos dias 24, 25 e 26 o simplesmente… Vinho.
A Essência do Vinho e o simplesmente… Vinho são uma espécie de Batman e Robin dos eventos vínicos. Com posicionamentos diferentes, acontecem nas mesmas datas, criando um bruaá gigante na cidade à volta do setor. Nada disto foi combinado, mas a simultaneidade dos eventos não é nova. Se divide ou agrega o setor, cada qual terá a sua opinião. Para nós, o importante é perceber o que podemos encontrar num e noutro lado.
Em matéria de super-heróis, a Essência do Vinho é claramente o Bruce Wayne da equação. "Inaugurámos uma nova forma de comunicar o vinho", defende Nuno Pires, um dos responsáveis do evento que já vai na 19ª edição. "Na altura em que começámos, foi uma pedra no charco. O mundo do vinho era muito fechado e muito associado ao homem. O Essência ajudou na democratização do acesso ao vinho e a atrair novos públicos."
Durante os quatro dias do evento, o Palácio da Bolsa recebe mais de 400 produtores que terão cerca de 4.000 vinhos em prova. Para além desta imensa mostra, há as habituais ações paralelas, como masterclasses, provas comentadas ou jantares harmonizados.
Os destaques desta edição vão para a presença de Susana Balbo, a primeira enóloga da história da Argentina, que conduzirá uma prova comentada com alguns dos vinhos mais emblemáticos das regiões de Mendoza e Salta (23 fev., 18h30). José Peñín, conceituado crítico espanhol responsável pelo Guia Peñín, vem apresentar os territórios e regiões emergentes de Espanha (24 fev., 16h) e Ricardo Diogo Freitas fará a primeira prova vertical de todos os Madeiras 50 anos da Barbeito (24 fev. 18h30).
D. R.
As harmonizações (€50) ficarão a cargo de Tiago Bonito, a quem foram entregues os espumantes da sub-região Monção e Melgaço (26 fev. 18h), de António Loureiro, em dupla com os vinhos da Quinta da Boavista (24 fev., 19h30) e de Paulo Morais, que trabalhará com os produtores Costa Boal, Quinta de Lemos e João Cabral de Almeida (25 fev., 19h30).
Descendo do Palácio da Bolsa para a Alfândega do Porto, esbarramos com o harém dos vinhos naturais. Ou será dos vinhos de mínima intervenção? "Há uma grande confusão nessas definições, porque este é quase o único domínio do vinho em que não há uma lei", nota João Roseira que, com a filha Sara e o filho Gustavo, leva o simplesmente… Vinho há 11 edições.
Daí a presença de Tommaso e Alessandro Maule, filhos do histórico vigneron italiano Angiolino Maule. "O Angiolino tem um caderno de encargos para os vinhos naturais e é, na minha opinião, a única pessoa que na verdade tem vindo a dar passos consequentes neste âmbito". Tendo em conta que 95% dos vinhos naturais portugueses têm na sua composição um bocadinho de sulfuroso, diz, então poder-se-iam considerar vinhos de mínima intervenção.
D. R.
Discussões aparte, o simplesmente… Vinho celebrará novamente a delicadeza desta corrente que apregoa o regresso às origens e, nesse sentido, tem uma certa atitude punk. "Estava tudo estagnado na enologia e isto veio agitar as coisas". A grande novidade desta edição são as conversas: Thomaz Vieira da Cruz apresenta o seu livro "VITI, VINI, VICI", no dia 24, e Diana Barnabé conduz uma emissão em direto de "Enxoval", no dia 25, com as convidadas Filipa Pato, Aline Domingues, (Menina d’Uva), Leila Camizão (Sem Igual) e Nuria Renom (Can Barceló, Catalunha). Ao todo, estarão presentes 101 vignerons de Portugal e de Espanha.