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Um livro para ler no fim de semana: Reencontro

Esta é a história da amizade entre Hans, filho de uma família judia, e Konradin, descendente de aristocratas ricos na Alemanha de 1932.

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Um livro para ler no fim de semana: Reencontro
Ângela Marques 18 de julho de 2025 às 18:00

Na capa, a primeira coisa que se lê é uma sentença: "Uma obra-prima do século XX". Já na contracapa, a explicação: "Uma obra-prima sobre o que é, verdadeiramente, a amizade. Uma história extraordinária." Facto: a Presença reeditou, passados 35 anos, a obra-prima de um autor pouco celebrado do século XX, Fred Uhlman. Opinião: se 79 páginas podem ser arrebatadoras, estas são essas 79 páginas.

O escritor, um judeu alemão que fugiu do Terceiro Reich explanou, neste livro, Reencontro (que teve a sua primeira edição em Portugal em 1988), as especificidades da relação de amizade entre o filho de um médico judeu e um jovem aristocrata na ascensão do nazismo.

Fred Uhlman nasceu em Estugarda, em 1901, e sempre afirmou que a zona de Vurtemberga (hoje Baden-Württemberg ou Bade-Vurtemberga, um estado federal), no sudoeste da Alemanha, onde cresceu, foi território fértil para que crescesse romântico e poeta. Vurtemberga (onde viveram também Hegel e Herman Hesse) é personagem secundária deste Reencontro, sendo pano de fundo para a amizade entre os dois rapazes. 

Entre o conto e o romance, Reencontro, como de resto diz Arthur Koestler, no texto de introdução ao livro, é uma novela. Pela sua estrutura, podia parecer um livro curto e demasiado leve para tratar uma época histórica como aquela que é anunciada logo na primeira frase do livro: "Ele entrou na minha vida em Fevereiro de 1932 e nunca mais saiu."

Estamos na Alemanha, em 1932. "Enquanto o mundo vislumbra no horizonte as primeiras sombras do nazismo, dois adolescentes de dezasseis anos veem nascer uma amizade intensa. Hans, filho de uma família judia, e Konradin, descendente de aristocráticos riquíssimos, conhecem-se na escola e forma-se, entre eles, um laço forte, único, inesperado. Longas conversas, caminhadas por lugares idílicos e um sentimento comum de irmandade, como só crescer juntos, lado a lado, pode criar. Porém, um ano depois, Hitler ascende ao poder e os dois rapazes separam-se: Konradin ingressa nas fileiras inundadas por suásticas e Hans deixa tudo para trás, procurando refúgio no exílio. E só muito tempo depois, Hans reencontrará, de certo modo, o seu amigo", lê-se na sinopse.

A excelência das descrições da temperatura ambiente (quer literal quer emocional) ajuda: "Lembro-me de todos os pormenores: a sala de aula, com os seus bancos e mesas pesados, o odor acre e bafiento de quarenta sobretudos húmidos, as poças de neve derretida, os traços amarelo-acastanhados nas paredes cinzentas, nos sítios em que outrora, antes da revolução, tinham estado pendurados os retratos do Kaiser Guilherme e do rei do Vurtemberga. Se fechar os olhos, ainda consigo ver as costas dos meus colegas, muitos dos quasi pereceram mais tarde nas estepes russas ou nas areias de Alamein."  

Fred Uhlman foi advogado, pintor e fervoroso antinazi. Morreu em 1985, em Londres. Deixou uma obra-prima.

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