Secções
Entrar

Covid-19: Psicólogos alertam para aumento de doentes e falta de profissionais no SNS

15 de outubro de 2020 às 14:26

Existem cerca de 24 mil psicólogos no país, mas o SNS conta apenas com 250 psicólogos ao nível dos cuidados primários.

A Ordem dos Psicólogos alertou para o aumento de procura de cuidados de saúde psicológica e mental, lembrando que os cuidados primários do Serviço Nacional de Saúde têm menos de três psicólogos para cada 100 mil habitantes.

Durante as crises económicas e pandemias, a saúde mental e psicológica das pessoas é atingida, alerta o estudo realizado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) hoje divulgado: "Crise económica, pobreza e desigualdades - Relatório sobre Impacto Socioeconómico e Saúde Mental".

Os especialistas alertam para o agravamento da saúde mental e psicológica dos portugueses durante a pandemia de covid-19, e por isso defendem um reforço de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Existem cerca de 24 mil psicólogos no país e a pandemia levou à criação da Linha de Aconselhamento Psicológico do SNS24, mas o Serviço Nacional de Saúde conta apenas com 250 psicólogos ao nível dos cuidados primários.

"É um número claramente diminuto, que impede muitos portugueses de aceder a esses serviços, já que a maioria não possui recursos para pagar o acesso a serviços de saúde fora do SNS", alerta a OPP.

Os psicólogos podem ser agentes de mudança e os mobilizadores sociais capazes de diminuir o impacto da pandemia e da crise socioeconómica na saúde psicológica e mental dos portugueses.

"É inevitável o aumento dos problemas de saúde mental provocados pela crise pandémica e pela crise socioeconómica, tornando-se expectável um aumento da procura dos serviços e cuidados de Saúde Psicológica/Mental. Adicionalmente, as intervenções de prevenção na área da Saúde Psicológica/Mental são residuais", alerta o relatório.

Entre as ações para diminuir o impacto da crise socioeconómica, provocada pela pandemia de covid-19, o relatório destaca a necessidade de haver maior acesso aos serviços e cuidados de Saúde Psicológica/Mental.

A mudança de comportamentos, a intervenção no stresse laboral e riscos psicossociais, assim como a promoção da resiliência e investimento na promoção da saúde Psicológica/Mental nas Escolas são algumas das propostas da OPP.

De um dia para o outro, as pessoas foram obrigadas a reorganizar a sua vida.

Neste processo, muitas famílias sentiram dificuldade em conciliar o teletrabalho com o cuidado e apoio aos filhos, muitos idosos ficaram fisicamente isolados, "muitos trabalhadores perderam o emprego ou ficaram em 'layoff', enquanto outros, como os profissionais de saúde, mantiveram-se a trabalhar, por vezes em situações física e psicologicamente muito exigentes e expostos a maior risco de infeção".

A ameaça do desemprego ou a perda de rendimentos, bem como o stresse e ansiedade provocados pela deterioração das condições de vida passaram a estar presentes no dia-a-dia de muitas famílias. Houve cidadãos que perderam familiares e amigos e não puderam cumprir os habituais rituais de despedida.

O excesso de informação e a incerteza sobre a doença vieram agravar "o medo e ansiedade" e foram o rastilho para desencadear um aumento de doenças do foro mental e psicológico, acrescenta o relatório.

O documento recorda que é entre as famílias mais carenciadas que há mais casos de desemprego e mais instabilidade laboral. É também ali que o acesso à educação e à saúde de qualidade se torna mais difícil.

Os especialistas alertam para o facto de a crise económica ter impacto direto na saúde das pessoas e vice-versa: Existe um "círculo que coloca em causa a recuperação das pessoas e, consequentemente, a economia e o próprio país".

A crise económica aumenta o desemprego, instabilidade económica, pobreza e exclusão social.

"A crise socioeconómica terá, inevitavelmente, um impacto negativo e acentuará estes determinantes, produzindo consequências negativas na saúde Psicológica/Mental dos portugueses. Sendo que, por seu lado, os problemas de saúde Psicológica/Mental agravarão a crise socioeconómica, diminuindo a produtividade e aumentando as desigualdades".

O documento recorda ainda que "Portugal é dos países desenvolvidos onde é mais difícil sair da situação de pobreza -- pode demorar até cinco gerações para que as crianças pertencentes a uma família que esteja na base da distribuição de rendimentos consigam um salário médio".

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela