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€5.300 para ficar numa banheira durante 10 dias e ajudar a exploração espacial

Susana Lúcio 23 de março de 2025 às 15:00

A Agência Espacial Europeia está a pagar milhares de euros a voluntários para estudar os efeitos da gravidade zero no corpo humano.

No espaço, a ausência de gravidade provoca alterações no corpo dos astronautas: perdem massa muscular e densidade óssea, os fluídos concentram-se no cérebro e até os globos oculares mudam de forma. 

MEDES/Prodigima/AEE

Mas os médicos e os cientistas da Agência Espacial Europeia (AEE) querem saber mais. Quais são os efeitos nos sistemas cardiovascular, neurológico e metabólico? Ocorrem alterações hormonais? O sistema imunitário fica mais fragilizado?

As respostas a estas perguntas estão a ser investigadas na clínica espacial MEDES, em Toulouse, França, que lançou um novo estudo, designado Vivaldi III, para o qual procura voluntários que permaneçam deitados e imersos numa banheira com água durante dez dias. Pelo desafio, os voluntários serão compensados com 5.300 euros. Parece muito?   

Talvez não seja, se considerar todas as condições. Durante dez dias, o voluntário terá de permanecer deitado e imerso numa banheira com água, embrulhado num lençol à prova de água que mantém o corpo seco. Apenas a cabeça e os braços poderão estar fora da banheira. 

A ideia é replicar a flutuação e ausência de peso corporal vivida pelos astronautas em órbita. As refeições serão tomadas também na posição horizontal, com a cabeça suportada por uma almofada, e com um tabuleiro flutuante. 

Nem durante as idas à casa de banho, os voluntários poderão levantar-se: serão levados em carrinhos até à casa de banho. A AEE reserva para os candidatos os pormenores sobre como se irão processar estes momentos. Imaginamos que envolverá arrastadeiras.

Mas há mais: durante dez dias terá como única companhia o seu telemóvel ou portatil, com os quais poderá falar com família e amigos. Isto sem contar com os cientistas que estarão diariamente a monitorizar-lhe os sinais vitais e a realizar análises e exames. 

Após o período de imersão, terá de ficar hospitalizado mais onze dias no Hospital Universitário de Toulouse para mais uma série de exames médicos.   

Dez dias deitado sem sentir o peso do próprio corpo e fazer de cobaia não é para todos. Pode parecer um pesadelo. Mas não é o primeiro estudo de imersão da AEE. A MEDES concluiu um estudo de imersão de cinco dias e também já realizou estudos em que os voluntários passam dias deitados com a cabeça ligeiramente mais baixa do que os pés. 

"Ao aumentar a duração da imersão seca e compará-la com o estudo de repouso na cama estamos a refinar o nosso entendimento de como estas situações simulam a vida no espaço, os diferentes efeitos fisiológicos e como se complementam entre si", diz Ann-Kathrin Vlacil, chefe de equipa da exploração espacial na AEE.

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