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Mulheres detidas em rede de imigração ilegal inscreveram 10 mil pessoas no SNS em ano e meio

Lusa 19 de novembro de 2025 às 16:20

Quase 500 pessoas deram a mesma morada numa rua de Lisboa.

As duas funcionárias de uma unidade de saúde familiar localizada na zona norte do país, (PJ), terão inscrito 10.000 imigrantes no Serviço Nacional de Saúde (SNS) durante ano e meio, disse fonte da investigação.
"Hulk", traficante do PCC, é detido pela PJ em Cascais, Lisboa Alexandre Azevedo/Sábado
"As senhoras recebiam a informação das pessoas que tinham de inscrever, sem preencher os critérios [como o comprovativo de morada] e eram inscritas em massa. Estamos a falar de um universo enorme, conseguimos perceber que terão inscrito, num ano e meio, cerca de 10.000 pessoas", disse à agência Lusa fonte da Diretoria do Centro da PJ. Ainda segundo a mesma fonte, ligada à investigação da operação "Gambérria" - que levou ao desmantelamento de um grupo criminoso organizado suspeito da prática reiterada de crimes de auxílio à imigração ilegal - quase 500 pessoas deram a mesma morada numa rua de Lisboa. A mesma fonte indicou ainda que as inscrições fraudulentas no SNS, reveladas pela investigação policial, não foram detetadas pelos sistemas do ministério da Saúde, considerando que essa fase, a atribuição do número nacional de utente, ocorre no final do processo de legalização, e "é das mais difíceis, a cereja no topo do bolo, entre aspas".
Questionada como é que as duas mulheres, funcionárias públicas de 40 e 54 anos, terão sido recrutadas pelo grupo criminoso, a fonte da Polícia Judiciária enfatizou que "quem está por detrás disto é uma organização tentacular, que tem pessoas de várias nacionalidades, não está concentrada numa só pessoa". "O objetivo é a legalização dos migrantes. O imigrante que quer viajar para a Europa paga um pacote de serviços, contacta com estes indivíduos e estes, depois, têm várias ramificações, em que conseguem arranjar toda a documentação necessária, para instruir o processo de regularização em território nacional", explicou. "Estas senhoras terão sido recrutadas por uma pessoa que pertence à organização, a partir daí foi-lhes oferecido algumas vantagens financeiras pela inscrição destas pessoas. (...) Os imigrantes podem-se regularizar e é desejável, em termos humanistas é isso que se pretende, o problema é quando essas inscrições são feitas de forma irregular", argumentou. A fonte da PJ adiantou ainda que a investigação, denominada operação "Gambérria", iniciada em setembro de 2023, está na sua fase final e "atingiu os objetivos que pretendia". "Atingiu as várias ramificações, que fomos identificando ao longo do tempo, com um trabalho muito meticuloso, tentámos estancá-las e acho que, neste momento, já o conseguimos fazer", alegou. Nas três fases da operação já realizadas, a primeira das quais em maio e a última hoje anunciada, foram detidas um total de 16 pessoas (entre as quais sete empresários, uma advogada e uma funcionária da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas do ministério dos Negócios Estrangeiros), tendo sido constituídas arguidas outras 26 pessoas. A fonte da diretoria do Centro da PJ disse ainda, sem especificar números, que foi apreendido muito dinheiro, imóveis e viaturas e detetados movimentos bancários de largos milhões de euros. As duas funcionárias da unidade de saúde familiar deverão ser ouvidas por um juiz no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, entre hoje e quinta-feira, dia em que deverão ser conhecidas as medidas de coação.
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