Sábado – Pense por si

Fernando Esteves
Fernando Esteves Editor da SÁBADO
13 de julho de 2015 às 11:28

O cancro de Laura e o regresso à barbárie

Claro que Estrela Serrano não acredita que somos todos atrasados mentais. E claro que todos acreditamos no Pai Natal. Certo?

Aos 54 anos o meu pai morreu com cancro. Melanoma. O mais maligno de todos. Entre o momento em que o problema foi diagnosticado e aquele em que, no IPO, uma médica me mostrou uma TAC com centenas de pequenos pontinhos brancos e me disse que cada um deles era uma metástase letal, maligna, fatal, no cérebro do meu pai, passaram poucos meses - os suficientes para que o cruzamento selvagem da rádio e da quimioterapia lhe levasse quase tudo. A força física. A lucidez. A pujança anímica. Restou-lhe a dignidade, que exibia em todas as circunstâncias. Quando andava com dificuldade. Quando dialogava sobre a doença. Quando deixou de conseguir falar. Quando, internado no IPO, já muito limitado, fingia achar graça às piadas que eu ia dizendo enquanto lhe fazia barba com uma máquina tão xpto que ambos tinhamos dificuldade em manipular. Quando, por fim, decidiu usar uma boina para tapar a inevitável careca. 

Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login

Assinatura Digital SÁBADO GRÁTIS
durante 2 anos, para jovens dos 15 aos 18 anos.

Saber Mais