Quando Rafael Nadal anunciou, na semana passada, que se ia retirar do circuito profissional de ténis, já toda a gente sabia que essa notícia estava para breve. A cabeça ainda queria mais, mas o corpo já estava cansado de sofrer. Na última final que ganhou em Roland Garros confessou que só conseguiu jogar porque tinha levado tantas injecções no pé nessas duas semanas, que já não o sentia.
O MUNDO PARECE SER muito grande para umas coisas, e muito pequeno para outras. Volta e meia lá descobrimos alguém que representa aquilo que gostaríamos de ser, e aí achamos que o mundo encolheu um bocadinho para nos acomodar, que se ajustou ao nosso tamanho para ficarmos a sentir que fazemos parte de qualquer coisa. Quando comecei a jogar e a ver ténis descobri o Rafael Nadal, e nele encontrei o primeiro jogador que transcendia o desporto, que combatia com uma raquete em punho, a ser um bicho que reescrevia em campo o que a palavra “garra” até então queria dizer. Era um jogador que se via pelo impossível, que superava o corpo, a dor, e por fim o adversário. Se uma jogada demorava mais tempo do que era suposto durar, era porque ele sabia que do outro lado estava alguém que não tinha as pernas nem os pulmões nem a cabeça que ele tinha, que mais cedo ou mais tarde teria de ceder e aceitar que aquele ponto não era dele, era de quem sofria o que fosse preciso para o ter. A única vez que chorei a ver ténis foi com o Nadal na final do Australian Open em 2022 contra o Daniil Medvedev. Num Grand Slam – como é o caso do Australian Open – os jogos são à melhor de cinco sets. O Nadal começou a perder dois sets a zero, mas toda a gente que estava a assistir ao jogo sabia que não era assim que ia acabar. Ao Medvedev faltava só mais um set para ganhar, mas ao Nadal faltavam 3 para conseguir dar a volta ao resultado. O problema de quem jogava contra o Nadal é que mesmo que estivessem com uma larga vantagem, sabiam que o factor físico e mental havia de fraquejar mais cedo ou mais tarde, mas o de Nadal não. Jogava cada ponto como se fosse um touro que só via vermelho à frente. Nadal representava um muro intransponível, um monstro que podia parecer adormecido, mas que nunca iria dormir. E Medvedev até podia achar que não sabia isso nas primeiras horas, mas a sua grande batalha era mental, era esquecer-se da pessoa que estava do outro lado da rede. Com o Nadal acontecia uma regra simples: nunca seria ele a perder o jogo, teriam de ser os outros a conseguir ir até lá acima ganhá-lo, onde o ar era rarefeito. E então, nessa manhã, ao fim de 5h24 minutos, Nadal conseguiu esses três sets impossíveis e ganhou mais um Grand Slam. Há um vídeo do Alex Corretja (antigo jogador, e agora comentador de ténis) em lágrimas depois do ponto que lhe deu a vitória, sem conseguir falar, e que representa o que muita gente sentiu quando aquele jogo acabou. E mal Nadal ganhou, o estádio todo percebeu que aquilo que tinha visto não era só ténis. A vitória é particularmente emotiva porque em 2022 ele já não estava com a forma física que tinha tido ao longo da sua carreira. O desporto é inglório nisso, porque sentencia o fim para uma idade prematura, e aos 36 anos ele já era tido como velho para o ténis de alta competição. Acontece que a cabeça dele não concordou, e nesse ano ainda ganhou Roland Garros e fez história uma vez mais. Foi essa a sua última vitória, um torneio onde já tinha sido vencedor 14 vezes, um feito que nunca ninguém até hoje conseguiu. Quando Rafael Nadal anunciou na semana passada que se ia retirar do circuito profissional de ténis, já toda a gente sabia que essa notícia estava para breve. A cabeça ainda queria mais, mas o corpo já estava cansado de sofrer. Nadal teve mais lesões do que aquelas que foi feito para aguentar: joelhos, costas, abdómen, pulsos, cotovelos, tornozelos, costelas partidas e mais umas quantas que imagino que ele tenha guardado para si. A mais grave foi a do pé esquerdo, que vem desde 2005 – uma doença rara chamada síndrome de Mueller-Weiss que fez com que tivesse de jogar várias vezes com dores inimagináveis. Na última final que ganhou em Roland Garros confessou que só conseguiu jogar porque tinha levado tantas injecções no pé nessas duas semanas, que já não o sentia. Quando também em 2022 o vimos a chorar no jogo de despedida do Federer, sabíamos que ele chorava também por si; porque o último dia dele estava a chegar. Mas como é que se diz a alguém que não foi feito para desistir, que chegou o fim? É preciso inverter a lógica de tudo, e tentar encontrar sentido nisso.
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