Sábado – Pense por si

Vítor Sousa
Vítor Sousa Escritor e poeta
30 de novembro de 2016 às 10:25

Serei velho quando o for

Esse episódio distante leva-me a outro, tão antigo que se tornou impossivelmente real. Tinha uns 20 e muitos anos. Fui a uma entrevista de trabalho. Quiseram saber se tinha experiência de vida

"Dá um beijinho ao senhor, dá." Após uma insistência que já estava a incomodar-me, ela lá acedeu. Depois perguntaram-lhe se sabia quem eu era. "É aquele senhor que está sempre vivo nos funerais." Foi esta a resposta da bisneta de um velho amigo. Pigarrearam os pais, tossiram os tios, riram os primos adolescentes, todos incomodados. Conversas que as crianças apanham, é compreensível. Tenho pouco mérito por durar e não é muito são jogar poker sozinho. Os mais chegados já foram, os das jogatanas desde o futebol às cartas, e eu fui durando assim, por exclusão de partes. Para além da dor, da terrível dor, sentia genuína vergonha quando entrava no cemitério e as famílias dos meus amigos mortos, todas juntas, calavam o mesmo. Houve um rapaz mais crescidinho que me perguntou se o meu nome era Lázaro. Ignorei e só mais tarde percebi. De facto, eu já tinha escapado algumas vezes.

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