Manifesto por um novo patriotismo
Estou farto que passem por patriotas aqueles que desfazem e desprezam tudo o que fizemos, tudo o que alcançámos e, sobretudo, tudo o que de nos livrámos – a miséria, a ignorância, o colonialismo.
Tenho orgulho no meu país. Nos que trabalham de sol a sol e nos que estudam a noite dentro. Nos que o constroem com as mãos, com a cabeça ou através da arte. Tenho orgulho no caminho que fizemos estes 50 anos, desde que despimos o manto negro da ditadura. Tenho orgulho na eletrificação e no saneamento básico, no SNS e na escola pública, no salário mínimo e na segurança social. Comovo-me de orgulho ao lembrar que a minha mãe nasceu num país onde não podia votar – e agora pode. Onde cada um pode amar, casar, procriar, adotar livremente, com quem quiser.
Tenho orgulho no meu país e nestes 50 anos de história. Orgulho no que conseguimos, sem garantias e sem heranças. Com décadas de atraso face a praticamente toda a Europa, tudo por decidir e tudo por fazer. Tornou-se moda agora dizer que "falham há 50 anos", que "não fizeram nada". Ganhou-se uma raiva a estes anos de liberdade. Ganhou-se até um certo nojo, com que políticos e comentadores se tentam desculpar, apresentando explicações e comiserações por não sermos um qualquer El Dorado. Estão seguramente assustados com as redes sociais, uma turba que ameaça deixar cabeças a rolar.
Estou farto de engolir em seco o orgulho que tenho no meu país. Estou farto que passem por patriotas aqueles que desfazem e desprezam tudo o que fizemos, tudo o que alcançámos e, sobretudo, tudo o que de nos livrámos – a miséria, a ignorância, o colonialismo. Estou passado que alguns se arroguem da bandeira para defender tudo menos o que é português – a exclusão, o ódio, o egoísmo. Estou já ansioso a antecipar quem fale dos mil e um problemas que ainda temos, como se houvesse país algum que não tem problemas, como se o orgulho no caminho tão longo e tão duro significasse esquecer, por um segundo, o tanto que ainda nos falta trilhar.
Estou farto que se confunda a melancolia do fado e a beleza da saudade com o culto de um povo eternamente triste e abandonado. Estou farto do constante maldizer dos velhos e novos "Velhos do Restelo". Saramago dizia que éramos "um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa." José Gil falava de um "medo de existir", onde nada do que acontecia se "inscrevia". Nós passámos estes 50 anos a voar e, por entre todo o bom e mau que nos trouxe, nada do bom se inscreve na nossa consciência ou na memória sequer. Tudo é dado por garantido e só restam as cinzas e as fornalhas do nosso ardor.
Vivemos tempos de uma extraordinária cobardia política. No meio das hipérboles do "nada fizeram" e companhia, anestesia-se o cidadão para o que se pode fazer e perde-se a capacidade de discutir as diferentes opções que pode haver. A sede de atingir o "outro" é tanta que nos esquecemos de que estamos a atingir-nos a nós mesmos e a alimentar o monstro dos populismos. Acha-se que o nosso papel é governar a partir das perceções e não para as transformar, tornando assim igualdade em "ideologia de género" e integração em desregulação.
É preciso um novo patriotismo – progressista, inclusivo, democrático. É preciso dizer que quem quer mesmo a meritocracia não teme que os outros tenham as mesmas oportunidades que ele. É preciso assumir com clareza que, sim, os serviços públicos falham e têm de ser melhorados, mas fazem mesmo uma enorme diferença na nossa vida em sociedade. É preciso recordar que a nossa história foi e será feita de mulheres fortes e independentes, e um homem que não se aguente bem com isso, tem é de ser mais homenzinho.
Ser patriota não quer dizer ignorar as nossas fraquezas. Implica, no entanto, olhar para elas com realismo e oportunidade. É preciso confrontar a justa revolta que os salários são baixos e as rendas altas com o discernimento de que fomos dos países da OCDE onde os salários mais cresceram mas também onde os preços da habitação mais aumentaram. É urgente reconhecer que isso deixou muitos aflitos do ponto de vista da largura da sua carteira. E os demais ficaram a achar que pouco ou nada tinham ganho com estes anos de suposto "crescimento acima da média da União Europeia", excedentes orçamentais e outras proezas.
É necessário percebermos que nos faltam casas, serviços e, por vezes, compreensão social para tanto imigrante, mas que sem eles não eram só os campos, os barcos e as motas da Uber que ficavam sem gente. Nem tão só os restaurantes que tanto marcam a cultura portuguesa ou as fábricas que sempre nos fizeram falta. São também os lares, as creches, os autocarros. São as obras que fazem os lares, as creches, as casas ou as estradas por onde andamos nós e os autocarros.
Ser um patriota português tem de ser sobretudo não nos deixarmos enganar. Não deixarmos fazer pouco dos esforços dos nossos pais e avós ao longo destes 50 anos. Eles não falharam. O país não foi construído nem deixou de o ser por um bando, melhor ou pior, de políticos nas Assembleias, Governos e Câmaras. Foi feito por todos nós, médicos, advogados, professores, costureiras, pedreiros, operários, operadores de call center e engenheiros de software. E, sim, por políticos e políticas, por eleições e cidadãos. O progresso destes 50 anos desenha-se na cara do nosso território e nas rugas das nossas mãos.
E é, por isso, que sempre que nos disserem "falham há 50 anos", "não fizeram nada", todos – mas mesmo todos – os patriotas temos urgentemente de nos unir. De fazer tripas coração. Para resistir a essa mentira, explicar de queixo erguido e logo bradar aos céus: "Estes 50 anos valeram tanto a pena. Que tamanho orgulho de Portugal."
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Estou farto que passem por patriotas aqueles que desfazem e desprezam tudo o que fizemos, tudo o que alcançámos e, sobretudo, tudo o que de nos livrámos – a miséria, a ignorância, o colonialismo.
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