Portugal e 48 deputados: era uma questão de tempo
Sempre houve e sempre haverá quem tenha uma visão nacionalista, reacionária, extremista, e discriminatória em relação a grupos sociais. Apesar de ajudar a explicar a percentagem de votos no Chega, este tipo de eleitores tem pouca expressão e vive nas margens do eleitorado comum.
Antes de 2019, falava-se que Portugal, a par de uma meia dúzia de países europeus, era uma exceção na resistência à entrada de partidos de direita radical populista no parlamento. Com as eleições de 2019, a realidade alterou-se: primeiro, a eleição de 1 deputado, depois 12 e, agora, 48. O salto é grande e difícil de não ver.
Não, nem todos os eleitores do Chega – ou de outros partidos de direita radical populista – são racistas ou fascistas, como disse Pedro Nuno Santos, mas a literatura científica mostra que estas tendências fazem parte, inevitavelmente, de alguns eleitores. Sempre houve e sempre haverá quem tenha uma visão nacionalista, reacionária, extremista, e discriminatória em relação a grupos sociais. Apesar de ajudar a explicar a percentagem de votos no Chega, este tipo de eleitores tem pouca expressão e vive nas margens do eleitorado comum. A outra parte dos votos neste partido é explicada pelo descontentamento com a situação económica do país e pela desconfiança nas instituições democráticas. Aliás, este é um dos pontos fortes da narrativa do Chega: criar desconfiança, divisão, medo e uma realidade paralela, que é aditiva, cativante e vive das emoções. Mas o sucesso eleitoral do Chega não se explica apenas pelos seus eleitores. Explica-se por uma estratégia bem conseguida, consistente e alinhada com os partidos-irmãos estrangeiros. Portanto, um movimento internacional concertado e não há como negar isto.
Fazer barulho, falar mais alto, com raiva e ar zangado pode ser bastante convincente para algumas pessoas. Mas não, o Chega não vai limpar Portugal, como apregoa. Se assim fosse, teria de começar a limpeza por dentro, em primeiro lugar. Mas estas linhas não fazem barulho, não falam mais alto nem interrompem outros para passar esta mensagem. E, provavelmente, poucas serão as pessoas que vão ler e concordar que o Chega é uma fraude.
Eu costumo ver o copo meio cheio, mas desta vez estou bastante pessimista. Não porque considero que vamos regredir em alguns direitos – acho que as nossas instituições democráticas são fortes o suficiente para o impedir – mas porque vamos voltar a falar com mais frequência de temas que há muito deviam estar arrumados numa gaveta. E isso vai criar insegurança em grupos sociais que ainda lutam pelo seu lugar. Além disso, a normalização da má educação, do sectarismo, da discriminação contra minorias, do discurso de ódio (que pode levar a crimes de ódio e Portugal ainda tem muito caminho para percorrer neste aspeto) é algo que me preocupa e que vai passar a ser mais frequente no debate público no nosso país.
O que Ventura vai fazer com um milhão de votos
Não há como negar: Portugal entrou – e em força – na onda da direita radical populista que grassa um pouco por todo o mundo. Fomos uma exceção enquanto não houve ninguém capaz de higienizar uma linguagem degradante, de transformar o extremismo e o radicalismo num movimento aceitável e de mãos dadas com o povo e, com isso atrair eleitores. E – alarmante - muitos deles cada vez mais jovens e com carga ideológica sólida e forte.
Escrevo estas linhas com tristeza, raiva e pessimismo. Muitos estavam a ver a onda a vir, mas tantos outros nada fizeram. E não, não me venham dizer que partidos como o Chega não são uma ameaça à democracia. São e há muitos autores que explicam porquê. Mas deixo esse tópico para outra crónica.
A sociedade civil portuguesa e os outros paridos precisam de um momento de introspeção. Precisam de olhar para o país e, com seriedade, ver o que está a falhar, o que falhou e procurar respostas. Mas não é só apenas uma compreensão interna; Portugal tem também de olhar para fora e ver a conjuntura internacional, encará-la e perceber o fenómeno como um todo e de onde vem. Mas, sobretudo, para onde vai. Daí dependerá o futuro da Europa e a segurança e solidez das democracias.
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Honrar o 25 de abril passaria por combater estes movimentos e partidos localizando a origem e traçando o caminho do dinheiro que os alimenta e que pretende destruir os valores que revoluções como o 25 de abril trouxeram às muitas pessoas que acreditam na democracia e aos seus herdeiros.
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Com o surgimento de movimentos radicais e a inclinação de certos países e parlamentos para uma direita radical populista, acompanhada por uma higienização na linguagem que até recentemente era inaceitável, há de novo a necessidade de falar em assuntos que deviam estar arrumados há muito numa gaveta.
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Edições do Dia
Boas leituras!