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Bruno Pereira Presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Policia
20.11.2024

"Procura-se Estado de equidade"

Não podemos continuar a almejar uma Polícia forte e respeitada, quando somos os primeiros a não respeitá-la, não respeitando os tremendos profissionais que nela trabalham, ajeitando as carreiras de uns, enjeitando as carreiras de outros, gerando assim uma incompreendida iniquidade.

Há uns dias atrás um jornal reconhecido fazia alusão ao atraso no pagamento de valores salariais respeitantes à acumulação de funções por parte de magistrados do Ministério Público, estando essa majoração salarial consagrada, e bem, no art.º 136.º n.º 1 do Estatuto do MP, podendo variar entre 1/5 e o total da retribuição mensal do magistrado. Numa altura em que a PSP se depara com agraves sérios no quadro de Comando e Direcção, fruto, como já dissemos por diversas vezes num passado recente, do número insuficiente de vagas de ingresso no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, com uma média de 28 vagas nos últimos 19 anos por comparação com as quase 40 dos 17 anos anteriores – cf. quadro infra.

A juntar a este quadro deficitário, temos o desligamento de Oficiais em números nunca antes assistidos e ainda o alargamento de competências na área de fronteiras, que exigirá uma alocação suplementar de Oficiais. Isto tem gerado uma sobrecarga inédita na carreira de Oficial, sendo estes chamados a acumular, logo no início da sua carreira, o comando de várias subunidades/esquadras. Ora, o problema está exactamente aqui, é que o desempenho de funções de comando em acumulação não traz consigo qualquer retribuição extra ou majoração curricular ou remuneratória, apenas mais desgaste, mais trabalho e mais responsabilidade. E este estado de coisas agudiza-se ainda mais tendo em conta que as próprias chefias intermédias, da carreira de Chefe, estão igualmente depauperadas, obrigando a que os Oficiais tenham que ir ainda mais além no enquadramento, fazendo a ponte directa com a primeira linha de resposta.

Já que estamos à beira de reiniciar um processo de negociação centrado na revisão estatutária, designadamente tabelas remuneratórias e suplementos, não podemos deixar passar a oportunidade para corrigir desigualdade inter-carreiras, como a que acabámos de exemplificar, sem prejuízo do problema de fundo ter que ser atacado na raiz, e isso passa, desde logo, pelo alargamento do número de vagas para Oficial para 40 a 50 vagas anuais em vez das 28 actuais que ficam manifestamente à míngua.

Já que falamos de desigualdades, e porque acreditamos que o Estado não deve funcionar a várias velocidades, evitando a criação de assimetrias e/ou promovendo a sua rápida correcção, é bom que vários dos suplementos que estão por rever e actualizar há mais de 15 anos, vejam, finalmente, a luz do dia. Olhe-se por exemplo para a actualização do suplemento de residência que foi aprovado, juntamente com vários outros suplementos, em Conselho de Ministros – Decreto-Lei n.º 62/2024, de 30 de Setembro que revê os suplementos da condição militar, residência e serviço aéreo, e cria suplementos de deteção e inactivação de engenhos para os militares das Forças Armadas -, alargando o seu âmbito subjectivo de aplicação e os valores a ele associado.

Podíamos continuar a excursão, falando das imparidades de valor na prestação de serviço por turnos, de piquete, cuja comparação relativa, por exemplo com a Polícia Judiciária é, tal como aconteceu para o suplemento de missão, de uma diferença abismal, podendo chegar a valores globais que ultrapassam 5, 6 e 7 vezes o auferido, à data de hoje, pelos profissionais da PSP. Mas detenhamo-nos, porque muito actual, na revisão do suplemento de emergência do INEM, pago aos Polícias que trabalham no 112, e cujo labor, como temos observado estes recentes dias, é de uma essencialidade tremenda, e mantém-se inalterado desde 2010.

Não podemos continuar a almejar uma Polícia forte e respeitada, quando somos os primeiros a não respeitá-la, não respeitando os tremendos profissionais que nela trabalham, ajeitando as carreiras de uns, enjeitando as carreiras de outros, gerando assim uma incompreendida iniquidade.

O Governo tem condições e competência, agora basta mostrar o quanto quer fazer a diferença no futuro dos milhares de profissionais da PSP. É este o momento.

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