Sábado – Pense por si

Ana Bárbara Pedrosa
Ana Bárbara Pedrosa
11 de junho de 2024 às 07:00

Como calar André Ventura

Se André Ventura estivesse disposto a combater a insegurança das mulheres ou a criminalidade, teria, no seu discurso, de ter a hombridade – a decência, a cabecinha – de se perguntar por que raio é que aos homens tudo parece permitido. Ele incluído, ou ele em primeiro lugar, uma vez que parece viver na redoma do homem branco medíocre.

Nem tem que ver com resultados eleitorais. Na semana passada, um imigrante confrontou André Ventura com a vida de todos os dias. Vindo do Bangladesh, o homem teve uma filha cá, que entretanto recambiou para o país de origem do pai, protegendo-a do racismo português. Em frente às câmaras e ao líder do Chega, Iqbal – com um nome como nós, gente como nós – chorava como tem de chorar quem tem a filha ao longe, resultado de uma vida estragada. Ventura olhava. Iqbal queixava-se e apontava o dedo: "Sempre que fala, é racista." De bolinha baixa, sem o ufanismo trauliteiro do costume, Ventura ainda devia pensar no que fazer perante a vida. É que daquela vez não eram só discursos, e os imigrantes não eram uma entidade ao longe, uma massa indistinta sem nome, sem cara, sem dor. Ali estava Iqbal com uma vida como a nossa – trabalha, tem família, tem visto, paga impostos.

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