Papa Francisco acena bandeira branca aos opositores
O Sumo Pontífice pôs termo a um longo conflito entre o Vaticano e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. A carta, divulgada hoje, permite que os padres da comunidade de Lefebvre celebrem casamentos
O papa Francisco decidiu validar, sob certas condições, a celebração de casamentos por padres lefebvristas, num novo esforço de reconciliação com a comunidade tradicionalista, que cortou relações com a Igreja Católica.
Numa carta enviada à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, e divulgada hoje, o Vaticano refere que, "na medida do possível", um padre católico de diocese deverá assistir ao casamento e receber o consentimento do casal. O acto será seguido pela celebração de uma missa pela Fraternidade.
Contudo, se nenhum padre de diocese estiver disponível, um padre lefebvrista, cuja ordenação não é reconhecida plenamente pelo Vaticano, poderá receber o consentimento do casal, ressalva o texto aprovado pelo papa Francisco.
A Igreja Católica pretende, deste modo, "evitar os debates de consciência entre os fiéis que aderem à Fraternidade Sacerdotal São Pio X e as dúvidas sobre a validade do sacramento do casamento, facilitando o caminho para a plena regularização institucional", assinala a carta.
Para não deixar os fiéis "na dúvida", o papa autorizou, em 2015, os padres lefebvristas a ouvirem confissões. Fundada em 1970 pelo arcebispo Marcel Lefebvre (1905-1991), a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, com sede na Suíça, tem 600 padres em vários países.
Hostil à reforma da Igreja levada a cabo a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), a comunidade tradicionalista rompeu com a Igreja Católica em 1998. Na carta, o Vaticano lembra ainda "a situação canónica, de momento, de ilegitimidade na qual se encontra a Fraternidade São Pio X".
Estatutos próprios
O arcebispo Guido Pozo, representante do Vaticano no diálogo com a comunidade tradicionalista, disse hoje, numa entrevista à agência especializada I.media, que decorrem conversações visando a reintegração da comunidade na doutrina católica através de uma "prelatura pessoal", como sucede com o movimento Opus Dei, o único com este estatuto jurídico.
A "prelatura pessoal" permite à Fraternidade Sacerdotal São Pio X "conservar plenamente a sua identidade espiritual, disciplinar, teológica e pastoral, com a elaboração de um estatuto próprio que contém leis particulares", explicou Guido Pozo, em declarações a um jornal alemão.
O Vaticano excomungou, em 1988, Lefebvre e outros quatro bispos, depois de Lefebvre os ter consagrado sem consentimento papal.
Num gesto de aproximação com a comunidade tradicionalista, Bento XVI retirou as excomunhões e permitiu, no seu pontificado, a celebração de missas em latim.
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