Há mais de 20 anos que fazem vinhos juntos, mas a amizade da qual brotou a parceria é ainda mais antiga. Jorge Roquette, da Quinta do Crasto, e Jean-Michel Cazes, do bordalês Chatêau Lynch-Bages, tinham quintas vizinhas no Cima Corgo, no Douro, e da "empatia" que nutriam um pelo outro - apesar das suas diferenças, os tintos do Douro e de Bordéus são ambos conhecidos pela sua presença audaz, nobreza e elegância características - nasceu, em 2003, o Xisto, uma homenagem à especificidade de um terroir inimitável.
Três anos depois, surgiu o irmão mais novo, batizado simplesmente como Roquette & Cazes, num esforço por escalar a parceria e "fazer um vinho mais acessível, de dimensão e expressão maior", diz Tomás Roquette, filho do patriarca da Quinta do Crasto. De resto, a sua génese era em tudo igual à do Xisto: um tinto de castas, terroir e alma duriense, mas com técnicas francesas, de maneira a alcançar um perfil "nem melhor, nem pior, mas diferente" do típico vinho português, porém, por um quarto do preço do primogénito.
Hoje, 15 colheitas volvidas sobre o seu nascimento, pode-se argumentar que esta "gama de entrada" encurtou as distâncias em relação ao Xisto - se não em preço, certamente em qualidade.
As uvas provêm agora inteiramente da Quinta do Meco, no Douro Superior, numa mescla harmoniosa de Touriga Nacional, maioritária, com apontamentos de Touriga Franca e Tinta Roriz, o que permite "melhor controlo da matéria-prima, com maior qualidade e menos surpresas", diz Roquette. O projeto consolidou-se, e o seu rótulo tornou-se sinónimo de um padrão de qualidade que não tem de ser inatingível: é fácil encontrar vinhos mais encorpados ou suaves, frutados ou complexos, nesta gama de preços; já mais equilibrados, nem tanto.
"O que queríamos, através de um processo de vinificação um pouco diferente, era um vinho que primasse pela elegância, um vinho estruturado mas fácil de beber", refere o produtor, que se orgulha do facto de que "o vinho é muitas vezes descrito pelas pessoas desta forma".
O que encontramos, de facto, é um vinho que, apesar de jovem, é já muito seguro de si. Pleno de fruta vermelha pouco amadurecida e de taninos bem limados pelos 18 meses de barrica francesa que viu, com alguma complexidade aromática (a desejável num tinto de guarda), mas simples, no sentido em que sabe o que quer ser, é um tinto formidável que não sacrifica a formosura, como o Douro sabe fazer tão bem.
A colheita de 2021, que chegou este ano ao mercado, ajudou: "Foi um ano fresco, que permitiu retirar um aroma de fruta muito limpa, sem aquela dureza vegetal indesejável", e que, "apesar de ir jovem para o mercado, tem um enorme potencial de evolução".
Roquette & Cazes 2021
Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz
€22,50 (PVP)