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Um livro para ler no fim de semana: Uma Catastrófica Visita ao Zoo

Como um grupo de alunos de uma escola especial entra numa cadeia de eventos dramáticos

Ângela Marques 26 de setembro de 2025 às 17:00
Joël Dicker apresenta "Uma Catastrófica Visita ao Zoo" em Portugal pela Alfaguara DR
O mínimo que se pode dizer sobre Joël Dicker é que ele sabe escrever grandes livros. Em média, os títulos publicados pelo suíço têm 600 páginas. E nem se pode dizer que o tamanho assuste: afinal, o autor tem mais de 20 milhões de leitores em todo o mundo. A crítica também não parece desgostar da fórmula XL: Dicker recebeu o Grande Prémio de Romance da Academia Francesa, o Prémio Goncourt des Lyéens e o Prémio Lire. Uma Catastrófica Visita ao Zoo, livro que chegou pelas mãos da Alfaguara a Portugal em maio, curiosamente, contrariou o padrão. Comecemos pelo fim: nas últimas páginas deste novo livro, Joël Dicker explica porque é que este é um título diferente dos anteriores. No início de 2024, quando publicou o sétimo romance, cumpriram-se doze anos sobre o lançamento de A Verdade sobre o Caso Harry Quebert. No balanço que achava necessário fazer, Dicker constatou que "nos autocarros, no metro, nos comboios e nos aviões, as pessoas ficam cada vez mais presas aos ecrãs dos seus telemóveis, renunciando, em muitos casos, à felicidade da leitura durante esses trajetos".
"Uma Catastrófica Visita ao Zoo", livro de Joël Dicker, publicado pela Alfaguara DR
Apesar da constatação, Dicker manteve-se otimista - afinal, nas sessões de autógrafos que já se habitou a dar, também se habitou a ver as pessoas mais diferentes tratarem-se como iguais, todas apaixonadas pela leitura. "Com uma Catastrófica Visita ao Zoo, tentei modesta e humildemente escreveu um livro que pudesse ser lido e partilhado por todos os leitores, sejam eles quem forem, estejam onde estiverem, entre os sete e os cento e vinte anos", explicou. É assim que surge a história de Joséphine, que, protagonista de um grande caso da pequena cidade onde cresceu, decide contar num livro, que escreve já adulta, que cadeia de eventos resultou "nos acontecimentos ocorridos no jardim zoológico numa sexta-feira de dezembro, a poucos dias do Natal". O relato começa, então, pela voz da criança que Joséphine foi. E, também por isso, começa ligeiro e comovente: "Naquela noite, não tive direito a sobremesa." Depois, aflora-se o que Joséphine nos quer explicar. "A seguir ao incidente no jardim zoológico, os pais começaram a telefonar uns aos outros." Os pais, de Joséphine e do grupo de amigos desta, todos alunos "de uma escola especial", queriam explicações, mas para lhes explicar o que tinha acontecido no zoo, ela tinha de explicar-se muito: "(...) seria necessário explicar que a catastrófica visita ao jardim zoológico se devera ao catastrófico espetáculo da escola, que acontecera por causa da catastrófica visita ao Pai Natal, que acontecera por causa da catastrófica peça de teatro, que fora encenada por causa da catastrófica Santa Bofetada, que acontecera por causa do catastrófico curso de prevenção rodoviária, que acontecera por causa da catastrófica aula de ginástica, que acontecera por causa da catastrófica reunião no anfiteatro, que, por sua vez, acontecera por causa de uma catástrofe inicial." Com a inocência na voz, Joséphine entrega-nos uma história rocambolesca e ao mesmo tempo muito simples, tocando, a todo o momento, em temas universais como a democracia, a inclusão e as relações entre pais, professores e jovens. Com o mistério a adensar-se a cada catástrofe, acompanhamos este grupo de miúdos e os pais destes na busca pela verdade. Bem humorado, bem intencionado e bem escrito, este novo livro de Dicker é a prova de que um escritor pode escrever um grande livro em menos de 200 páginas.
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