A morte de Francisco Nicholson, esta terça-feira, abalou os amigos próximos e todos aqueles que trabalharam com o actor e autor de muitos sucessos do teatro e da televisão portuguesa. Membro de uma geração que incluía nomes como Rui Mendes, Morais e Castro, Catarina Avelar e Mário Pereira, é considerado "uma pessoa muito importante na história das telenovelas".
Casa dos Artistas. Consternada pela morte do amigo "de há muitos anos", Conceição Carvalho lembrou que Francisco Nicholson foi "um enorme lutador e um homem de causas". "O Francisco era um grande homem de teatro, de telenovelas, de televisão. Era um grande homem de cena", disse a assessora da direcção da Casa do Artista, que Nicholson ajudou a fundar juntamente com Armando Cortez, Manuela Maria e Raul Solnado. "Falei com ele há duas semanas e ele encontrava-se bastante cansado. Estava a entregar os pontos", disse.
Tozé Martinho. O actor e argumentista lamentou a morte de Nicholson, lembrando que este "foi uma pessoa muito importante na história das telenovelas" em Portugal. "Foi o autor da primeira novela [portuguesa] de grande impacto", disse, aludindo à telenovela Vila Faia, em que Francisco Nicholson, além de autor, desempenhou o papel de polícia, ao lado de actores como Nicolau Breyner, recentemente falecido, Margarida Carpinteiro e Manuela Marle, entre outros. Tozé Martinho disse ser "com desgosto e pena" que vê partir Francisco Nicholson, "um grande amigo" e uma pessoa que "prezava muito".
Mário Zambujal. O jornalista e escritor considerou que se perdeu um homem do teatro que tinha uma capacidade "insubstituível". "Era uma pessoa rara, de uma grande educação, de um talento enorme, com muito sentido de humor e muita graça", disse Mário Zambujal. Lamentando a morte do actor e argumentista de quem era amigo, Mário Zambujal lembrou que Francisco Nicholson era um homem "cheio de talento", que fez coisas "muito interessantes também no teatro musical" e que era "muito respeitado" por todos com quem trabalhou. "Entristece-me muito, o Francisco tinha uma alegria muito natural e expansiva. Era um tipo fascinante", concluiu.
Rui Mendes. Estreou-se no teatro nos anos 50, tal como Nicholson, cuja morte o deixou "consternado". "Era um homem multifacetado e tinha muitos talentos. Era um grande amigo, foi o meu companheiro de teatro, desde sempre, desde os bancos do liceu. Andamos no Liceu Camões, fomos companheiros de turma e foi aí que começamos a fazer teatro", disse Rui Mendes. O actor explicou que Francisco Nicholson estava doente há "bastantes anos", mas que o seu estado de saúde se agravou nos últimos tempos. "Considero que o Francisco Nicholson deve ter sido das pessoas que melhores telenovelas escreveram neste país durante uma certa época, pelo menos, as primeiras novelas", sublinhou.
Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República gravou uma mensagem em vídeo sobre a morte de Francisco Nicholson, na qual declara que o actor deixa muitas saudades, como artista, interventor político e amigo. "Francisco Nicholson partiu e deixou muitas saudades. As saudades do artista, no teatro, no cinema, na televisão, muito próximo das pessoas com o seu afecto e também com o seu talento", afirmou o chefe de Estado nesta mensagem gravada no Palácio de Belém e divulgada na página oficial da Presidência da República. Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que Francisco Nicholson deixa igualmente "a saudade da intervenção política do lutador pela democracia, que ele não separava do seu papel como artista, e depois a saudade do amigo". "E aqui fica uma palavra por essa tripla saudade, do artista, do interventor político e do amigo", conclui.
Moita Flores. O argumentista e escritor lamentou a morte do amigo, a qual representa a perda de "um grande homem da comunicação do teatro da revista e da televisão" portuguesas. "É uma grande perda. Foi um homem muito importante na ficção e no teatro. Ficamos a dever-lhe muitos dos grandes trabalhos que foram feitos, quer no teatro, quer na revista. É uma das figuras de referência de um teatro novo, numa prática livre que surgiu no velho [Teatro] Adoque, que entretanto desapareceu", destacou Moita Flores. Segundo o escritor e argumentista, Francisco Nicholson e Armando Cortez, "marcaram uma época na televisão no domínio da comédia", considerando Nicholson "um grande homem de comunicação do teatro da revista e da televisão" que Portugal perdeu. "Trata-se de um homem que foi uma referência de trabalho, quer como ator, quer como autor, nas televisões, particularmente na RTP. Deixa uma grande obra, um grande trabalho. Era um amigo", salientou.
António Calvário. O cantor considerou Nicholson um "grande ator e escritor" que se completava em tudo o que fazia. "Por toda a convivência que tivemos, por tudo aquilo que foi como grande ator e escritor, quase que não tenho palavras para descrever uma pessoa tão completa", disse Calvário, acrescentando que Francisco Nicholson era "um grande amigo" e "um belíssimo companheiro". António Calvário recordou que a sua ligação a Francisco Nicholson remonta a 1963, quando se estreou na revista Chapéu Alto, em que foi actor e autor. O cantor destacou também que Francisco Nicholson foi o autor da canção Oração que interpretou no primeiro festival da canção de 1964 e que obteve o primeiro lugar. "Uma canção que atravessa todos estes tempos como um símbolo da primeira representação de Portugal na Eurovisão", afirmou.
Herman José. O humorista manifestou "profunda admiração" pelo trabalho realizado pelo seu "grande amigo" Francisco Nicholson, afirmando que ficará na história como "um grande autor". "Era uma pessoa de quem gostava especialmente, tivemos um encontro mágico em 1978, numa peça dele com a Ivone Silva, e ficámos muito, muito amigos", lembrou Herman José, contando que eram vizinhos em Azeitão. "Há uma grande tristeza, mas ao mesmo tempo uma profunda admiração por ter conseguido tanto em quase oito décadas de vida", disse, convicto de que Francisco Nicholson "ficará na história como um grande autor, muito mais do que actor". "Como autor era um verdadeiro talento, conseguiu fazer novelas de sucesso, escrevendo quase sozinho. Tinha uma capacidade de trabalhar inacreditável", comentou. O humorista recordou também o "óptimo letrista de cantigas", que escreveu "imensos êxitos musicais ligeiros", que ainda permanecem na memória dos portugueses. Uma das melhores memórias que guarda do seu amigo é quando fez recentemente o programa Há tarde. "Já muito doente e com uma grande dificuldade de locomoção nunca disse que não a um convite. Esteve sempre presente quase como rindo-se das suas próprias incapacidades", lembrou. Por outro lado, foi "um sobrevivente" na doença: "Como é que um duplo transplantado de fígado consegue viver até aos 77 anos? É uma coisa histórica". O humorista quis deixar uma palavra de homenagem a Magda Cardoso, mulher de Francisco Nicholson, que foi a sua "heroína". "A Magda Cardoso teve uma abnegação e uma entrega como só se vê nos romances do século XIX. Ela viveu em função daquele amor, lutou até ao final", comentou. "Foi um caso de amor profundo e neste momento os meus sentimentos e todo o meu carinho estão com a Magda Cardoso, porque uma parte dela desapareceu", rematou.