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Filme de Stan Douglas ficciona atentado em Lisboa no 25 de Abril

Instalação de cinema criada pelo artista revela uma reflexão sobre os sonhos de emancipação política e multicultural de um país

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Edição de 5 a 11 de agosto
21 de outubro de 2015 às 08:00

The Secret Agent(em português,O Agente Secreto) é o título desta nova peça incluída na exposição dedicada ao artista canadiano, denominadaStan Douglas: Interregnum, que inaugura na quarta-feira, às 19:00, e ficará patente no Museu Berardo até 14 de Fevereiro de 2016.

As três obras da exposição, que inclui o filme rodado este ano durante três semanas em Lisboa, com actores portugueses - em estreia mundial - foram hoje mostradas aos jornalistas numa visita guiada com a presença do artista.

"Interessei-me pelo contexto da revolução que aconteceu em Portugal em 1974 porque pensei que seria um bom palco para reencenar a novela de Joseph Conrad", disse o artista à agência Lusa depois do visionamento de parte da obra, com 52 minutos. A obra foi filmada em Lisboa ao longo de três semanas, em locais como o Palácio da Justiça e o cinema Nimas, com um elenco de maioria de actores portugueses, entre eles Miguel Guilherme, Gonçalo Waddington, Albano Jerónimo, Beatriz Batarda e Carloto Cotta.

O romanceO Agente Secreto, de 1907, é por seu turno inspirado num ataque terrorista falhado: a tentativa de fazer explodir uma bomba no Observatório de Greenwich, em Londres, em 1894. Em Lisboa, o enredo envolve também um movimento revolucionário onde um espião de embaixadas estrangeiras se infiltra para provocar o acto terrorista que pretende deitar a baixo as torres de comunicação internacional da Marconi.

Para Stan Douglas, que já tinha feito pequenos projectos em instalação cinemática, "foi um desafio" fazer uma longa metragem com este tema: "O terrorismo interessa-me como tecnologia que tem atravessado a História para causar mudança, transformação", apontou.

O filme é exibido em seis ecrãs de grandes dimensões dispostos em duas paredes de uma sala, e o espectador pode ver várias perspectivas da acção, "que envolve o público de forma intensa".

De acordo com Pedro Lapa, a importância da obra está, sobretudo, "na forma como reencena a História, hoje, um conjunto de dados que articulamos e que pode ter diferentes perspectivas". "São aqui exploradas as fronteiras entre a História e a ficção, que são muito ténues", salientou. A exposição "Interregnum", comissariada pelo director do Museu Berardo, Pedro Lapa, vai ainda mostrar duas obras recentes do artista: "Disco - Angola" e "Luanda - Kinshasa".

Stan Douglas, 54 anos, tem vindo a mostrar trabalhos em várias exposições internacionais como a Documenta, na Alemanha, e a Bienal de Artes de Veneza. Na sua obra usa sobretudo instalações, fotografia e conteúdos de televisão, inspirando-se na história da literatura, cinema e música, para fazer crítica social e à predominância da tecnologia.

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