Mulheres do Século XXpode ser visto como a prequela deAssim é o Amor(2010), o maravilhoso filme em que Mike Mills se inspirou no seu pai que, aos 75 anos e depois de se tornar viúvo, se assumiu homossexual. Aqui, o realizador americano recua até 1979 e retrata - com a mesma compaixão, ternura e nostalgia - a mãe. É com Dorothea (Bening) que Jamie, um miúdo de 15 anos, vive numa casa em constante reparações onde um dos quartos é alugado a Abbie (Gerwig), uma fotógrafa, e a cama do adolescente é invariavelmente ocupada por Julie, por quem ele está apaixonado mas que lhe garante que o sexo é a morte de qualquer amizade. Mike Mills, que também é um designer com passado como realizador de vídeos de música, continua com um estilo muito próprio, integrando imagens de arquivo, recitações de ensaios e até trechos de Koyaanisqatsi mas, como em Assim é o Amor(onde o cão do protagonista falava através de legendas), sustenta esse lado mais "giro" numa enorme generosidade emocional. É um estado de espírito que contagia todo o elenco, que também inclui Billy Crudup. Annette Bening - a mãe que sente o filho a afastar-se perante todas as referências que já não entende - está magnífica; não existem muitos actores capazes de, a cada cena, transmitir tanta inteligência e humanidade com um simples olhar. A determinado momento, ela diz que "pensares se estás feliz é o caminho mais curto para te sentires deprimido". Mas, se Assim é o AmoreMulheres do Século XXdemonstram alguma coisa, é que Mills encontra um imenso conforto na reflexão e nas memórias.