Secções
Entrar

Covid-19: Adiamento de exames pode afetar diagnóstico e tratamento do cancro

15 de junho de 2020 às 09:16

Além dos doentes que viram as suas endoscopias e colonoscopias adiadas, existem muitos doentes que cancelaram os exames ou não compareceram por medo de serem infetados pelo novo coronavírus.

O presidente da Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal admite que o adiamento num largo número de endoscopias e colonoscopias, em consequência da covid-19, poderá prejudicar o rastreio e a vigilância de alguns dos cancros mais frequentes na população portuguesa.

Esta possibilidade é reconhecida por Mário Dinis-Ribeiro, que é também professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigador do CINTESIS, num artigo que assina na Nature Reviews -- Gastroenterology & Hepatology, a que a Lusa teve hoje acesso.

De acordo com o responsável, "a covid-19 está a afetar a endoscopia gastrointestinal, quer a nível do diagnóstico, quer da terapêutica, e irá continuar a afetar no futuro".

O responsável defende que "a solução é adaptar as práticas diárias, realizando uma triagem e uma estratificação do risco em todos os doentes que necessitam de endoscopia e até adiando os procedimentos considerados não urgentes".

O objetivo, segundo o especialista, é proteger os profissionais de saúde, que estão especialmente expostos à infeção, sobretudo perante a escassez de equipamentos de proteção individual (EPI), e os doentes, especialmente os de maior risco, como os que sofrem de doença cardíaca, doença pulmonar, cancro e os que têm o sistema imune comprometido.

"Os médicos devem pesar cuidadosamente, caso a caso, os benefícios da endoscopia e o risco de infeção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Isso pode ter um impacto significativo nos cancros diagnosticados e tratados com endoscopia, como o cancro gástrico e o cancro colorretal", afirma Mário Dinis-Ribeiro.

Além dos doentes que viram as suas endoscopias e colonoscopias adiadas, existem muitos doentes que cancelaram os exames ou não compareceram por medo de serem infetados pelo novo coronavírus, assim como profissionais das unidades que foram alocados a outros serviços ou que estiveram em isolamento ou em quarentena por causa da covid-19.

Mário Dinis-Ribeiro admite que "a falta de rastreio destes cancros possa afetar milhões de pessoas em todo o mundo e que os efeitos a curto prazo são ainda desconhecidos".

"Um dos maiores receios é que muitos cancros deixem de ser detetados em fases iniciais, o que terá um impacto substancial no tratamento e na sobrevivência dos doentes", acrescenta.

Espera-se que os exames de diagnóstico e vigilância possam ser reagendados "o mais rapidamente possível". Contudo, acrescenta, "ainda há muitas questões em aberto, como, por exemplo, a da priorização de doentes para realização de endoscopia, enquanto a pandemia durar".

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde emitiu uma norma que sublinha o elevado risco destes procedimentos, devido à "proximidade com a via aérea, contacto com secreções contaminadas e geração de aerossóis", e recomenda medidas específicas a adotar por doentes e profissionais na reorganização destes serviços, de modo a diminuir o risco de transmissão do novo coronavírus e controlar a disseminação da covid-19.

Portugal contabiliza pelo menos 1.517 mortos associados à covid-19 em 36.690 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

A pandemia já provocou mais de 431 mil mortos e infetou mais de 7,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela