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Prémio Camões: Faltava consagração definitiva como escritor a Chico Buarque

25 de maio de 2019 às 17:40

O escritor e cronista angolano Carmo Neto considerou que a atribuição do 31.º Prémio Camões ao brasileiro é a "consagração que faltava como escritor a um ícone" da música popular brasileira.

O escritor e cronista angolano Carmo Neto considerou este sábado à agência Lusa que a atribuição do 31.º Prémio Camões ao brasileiro Chico Buarque é a "consagração que faltava como escritor a um ícone" da música popular brasileira.

Num longo depoimento escrito, o também advogado, jornalista e secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA) passa em revista a obra escrita de Chico Buarque, destacando, paralelamente, os cinco romances publicados, os vários prémios literários e o reconhecimento da crítica do igualmente compositor brasileiro.

"Com refinada poesia, construções elaboradas, impressionantes descrições e muita ironia, podemos acompanhar, através da coesa obra literária do autor, o desenvolvimento do Brasil, desde a década de 70, com a busca pela liberdade e os ecos que essa época causaram 20, 30 anos depois. A partir desses livros pode-se entender melhor o Brasil e também a forma como foi construída a sociedade brasileira nessa história mais recente", escreve Carmo Neto.

O escritor angolano destaca que os livros de Chico Buarque são 'best-sellers' nas livrarias e foram laureados com importantes prémios, como o Jabuti e o Portugal Telecom, além de terem sido adaptados para o cinema.

"Tais aspetos só reafirmam a alta capacidade de romancista que o prosador Chico Buarque apresenta, sabendo agradar ao público e também aos altos intelectuais", sublinha Carmo Neto, destacando as obras "Estorvo" (1992), "Budapeste" (2004), "Leite Derramado" (2010) e "O Irmão Alemão" (2014).

No depoimento, Carmo Neto, 56 anos, natural de Malanje, que publicou "A Forja" (1985), "Meu Réu de Colarinho Branco" (1988), "Mahézu" (2000), "Joana Maluca" (2004) e "Degravata" (2007), tendo atualmente duas obras por publicar, chama também a atenção para uma das particularidades da obra literária de Chico Buarque.

"Na literatura, não são as mulheres que comandam. A voz primordial é a masculina. São os protagonistas homens que ditam os tons dos romances. Por mais que eles estejam cercados por mulheres de fortes personalidades, são os homens que se sobressaem. E na voz de grandes personagens masculinos, Chico cria por meio de sua literatura um retrato alegórico do país, sob diversos pontos de vista. Chico cria de maneira ímpar a sua prosa", escreveu o escritor angolano.

O músico e escritor Chico Buarque foi o vencedor do Prémio Camões 2019, anunciado na terça-feira, após reunião do júri, na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.

O músico e escritor foi escolhido pelos jurados Clara Rowland e Manuel Frias Martins, professores universitários indicados pelo Ministério português da Cultura, pelo ensaísta Antonio Cícero Correia Lima e pelo professor António Carlos Hohlfeldt, do Brasil, pela professora angolana Ana Paula Tavares e pelo professor moçambicano Nataniel Ngomane.

O prémio, no valor de cem mil euros, é financiado em partes iguais, pelos governos de Portugal e do Brasil.

O Prémio Camões foi atribuído pela primeira vez, em 1989, ao escritor Miguel Torga.

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