O que é a verdade?
Fazer jornalismo significa por vezes não escrever. Essa é uma das decisões mais difíceis de tomar, mas é em muitas ocasiões a única verdadeiramente jornalística. Porque é a que permite separar o rumor da notícia, o fait divers incendiário da informação relevante.
O que é a verdade? Esta pergunta tão filosófica não é abstrata para quem faz jornalismo. Todos os dias o jornalista se depara com ela e as opções que toma, para lhe responder, têm o efeito de criar uma verdade que pode até moldar a própria realidade.
A primeira coisa que o jornalista deve saber é que o lugar de onde olha para o mundo importa. Não há lugares neutros. E qualquer um que já tenha feito jornalismo sabe que a primeira parte de escrever um texto é escolher um ângulo.
O ângulo aproxima ou afasta, lança sombras e luzes. Mas escolher um ângulo não é escolher um lado. O jornalismo é uma prática: tem técnicas e regras, sem quais se poderão fazer textos e contar histórias, mas nunca fazer jornalismo.
Depois de escolhermos a partir de que lugar olhamos para uma história, começamos a encontrar nos vários relatos as peças do puzzle que iremos montar.
E é aí que, muitas vezes, começa um dos trabalhos mais difíceis: o de escolher o que cabe e ficará na peça e o que não serve e não tem espaço.
Fazer jornalismo significa por vezes não escrever. Essa é uma das decisões mais difíceis de tomar, mas é em muitas ocasiões a única verdadeiramente jornalística. Porque é a que permite separar o rumor da notícia, o fait divers incendiário da informação relevante.
Falta-nos demasiadas vezes tempo e distância para fazer essa avaliação. E acabamos enredados numa reprodução (aparentemente) inócua de opiniões e acontecimentos a que um colega, com uma graça certeira e cruel, chama "jornalismo-dactilografismo".
Caímos nessa armadilha e é trágico. Porque a comunicação é que é instantânea. O jornalismo não. Precisa de tempo. E quando não o fazemos com tempo perdemos relevância, porque não vamos além do que circula livremente pelas redes sociais, sem que ninguém saiba (como o jornalista) como pescar à linha o que interessa e submeter às regras da edição o que, assim, deixará de ser mera comunicação e passará a ser informação.
O jornalismo afirmou-se reclamando ser o quarto poder, mas talvez essa não seja a melhor forma de o definir. O jornalismo é um direito. E é também o canário numa mina: quando uma democracia definha, é o primeiro a morrer.
É por isso que os problemas que afectam o jornalismo não são coisas de jornalistas. São um assunto que interessa a toda a sociedade. Só um jornalismo sério, plural, capaz de analisar e descodificar a realidade produz cidadãos e informados e escolhas esclarecidas. Não existe democracia sem jornalismo. E, sim, isso faz com que as escolhas que condicionam as próprias condições do jornalismo também sejam políticas.
Desfazer o presépio
Enquanto alguns acenam com os riscos imaginários de uma invasão cultural (em Portugal, os estrangeiros são 7,5% da população), há quem lucre com o desespero de quem procura uma vida melhor.
Para que servem os jornalistas?
Quando alguma coisa ganha a atenção do público, isso tem um efeito. Até os mais poderosos preferem perpetrar as suas prepotências longe de olhares reprovadores.
O que é o centro? E por que está a desaparecer?
O centro, quando lhe queremos chamar um nome feio, passa a centrão e quase toda a gente sabe que se refere então a uma amálgama pouco recomendável de interesses inconfessáveis, mas facilmente adivinháveis, dos que têm poder e dinheiro.
Um conto de Natal sueco
Elon Musk, o empresário que tudo pode, não quer ceder a 120 mecânicos e aceitar a lei e a prática do reino onde se inventou a social-democracia.
Os 20% que ameaçam a democracia
A falta de interesse pelo que nos rodeia é um sinal alarmante. Quem não se espanta, não se interroga, não procura, fica mais longe do humano.
Edições do Dia
Boas leituras!