Bret Easton Ellis psicopata e misógino? Nem pensar...
Vinte e cinco anos depois de lançar Psicopata Americano, o escritor defende-se à SÁBADO das acusações ao livro n mesma semana em que uma nova tradução chega às livrarias portuguesas
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Edição de 5 a 11 de agosto
É meio-dia em Nova Iorque, menos cinco horas do que em Portugal. Bret Easton Ellis atende o telefone à SÁBADO com uma voz radiofónica e uma dicção extremamente pausada. Diz que estamos à vontade, que deixou tempo na sua agenda para esta entrevista. O pretexto é a publicação em Portugal (esta semana) de uma nova tradução (de Hugo Gonçalves) do seu livro mais controverso, Psicopata Americano, precisamente 25 anos depois de ter sido lançado nos Estados Unidos. O musical American Psycho estreara na Broadway dois dias antes, 21 de Abril. É a mais recente expansão de uma obra que em 2000 chegou ao cinema - Mary Harron realizou e Christian Bale deu corpo e alma ao protagonista, Patrick Bateman - e em 2013 tinha resultado num musical em Londres."É embaraçoso" - é assim que Bret Easton Ellis descreve o sucesso do romance. "Foi escrito há muito tempo, é um livro muito pessoal para mim. Escrevi-o durante três anos. Depois foi para o mundo e deixou de ser meu. E o mundo é que decide o que vai fazer com ele, se o quer ignorar, se o quer amar, se o quer foder. Sinto-me completamente desligado das reacções. O oposto podia ter acontecido - o livro podia ter ido para o mundo e ninguém gostar dele, quer dizer, há muita gente que desgosta. Por isso, por um lado estou grato, mas este sucesso também pode ser muito alienante." Já em Portugal, onde Psicopata Americano foi editado pela primeira vez em 1992, o livro não terá causado grande impacto. Pelo menos esta é a opinião do escritor João Tordo, como conta à SÁBADO: "Sendo português, não era fácil identificarmo-nos com aquele mundo consumista, das marcas e dos yuppies. Era uma realidade que, nessa época, ainda estava um pouco longe. Viria mais tarde." O escritor e ex-secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas reconhece que hoje é um título importante, mas recorda o preconceito com que foi recebido na altura em Portugal. "Diziam que ele [Bret Easton Ellis] ganhava dinheiro por mencionar certas marcas", conta, a rir. "Ninguém assumia que gostava daquilo, havia uma certa relutância em relação à literatura pós-moderna."Na revista SÁBADO n.º 627 (à venda a 5 de Maio) pode ler a entrevista completa a Bret Easton Ellis, em que se defende das acusações ao livro, algumas delas corroboradas por escritores portugueses.