Aos 88 anos, 25 depois do aplauso unânime com Imperdoável, acumula a direção e o papel principal em Correio de Droga, o que não acontecia desde 2008. História real de um nonagenário intrépido e apologia da família, o filme serve de balanço de vida ao realizador. Perfil na semana da estreia
Muitos morrem antes de conseguirem concretizar os seus mais antigos projetos, mas Clint Eastwood, aos 88 anos, ainda vai inventando novos. É óbvio que não gosta de estar parado - seja porque o seu trabalho como realizador (e há Óscares a prová-lo) é a sua faceta mais universalmente admirada, seja por temer a solidão e o tédio de uma eventual reforma ou por, na verdade, não ter muito mais a que se agarrar: lobo solitário como grande parte das personagens que interpretou no cinema, trocou muitas vezes de mulher (embora só tenha casado com duas), demorou anos a reconhecer dois dos seus oito filhos (incluindo Alison, que faz de sua filha no novoCorreio de Drogae que o pai já não chamava para trabalhar desdeMeia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, de 1997) e não se sabe quantos terá mais, ilegítimos, espalhados pela imensa América - dos desertos a perder de vista, dos motéis e snack-bars à beira da estrada, do jazz e da country music, dos veteranos de guerra e pais de família patrióticos, mas agora também dos telemóveis e da Internet, das motoqueiras lésbicas que confunde com homens e dos afro-americanos que querem ser tratados como pessoas e não como "negros" - que não se cansa de retratar.