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Karla Sofía Gascón, a primeira mulher trans distinguida como Melhor Atriz em Cannes

Protagonista do filme Emilia Perez contracenou com Selena Gomez e Zoe Saldana. "Ser trans não me tornou nem mais burra nem mais inteligente. Sou a mesma pessoa", afirmou em entrevista.

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Karla Sofía Gascón, a primeira mulher trans distinguida como Melhor Atriz em Cannes
Andreia Antunes 27 de maio de 2024 às 14:56
REUTERS/Sarah Meyssonnier

Pela primeira vez na história do festival de Cannes, o prémio de Melhor Atriz foi atribuído a uma mulher transexual, Karla Sofía Gascón. A atriz espanhola de 52 anos é a protagonista da comédia musical Emilia Perez, do realizador Jacques Audiard, que conta ainda com Selena Gomez e Zoe Saldana no elenco. 

O filme relata a história de um homem que, para fugir a traficantes de droga, faz a transição de género que sempre desejou. O júri do festival de Cannes agraciou todo o elenco feminino do filme: Karla Sofía Gascón, Zoe Saldana, Selena Gomez e ainda a atriz mexicana Adriana Paz. Nem Saldana nem Gomez estiveram na cerimónia de entrega de prémios no sábado, 25 de maio e o discurso ficou a cargo de Karla Sofía Gascón. 

"A todas as pessoas trans que sofrem todos os dias com o ódio. Isto é para vocês", afirmou a atriz espanhola, que antecipou ainda qualquer reação negativa à escolha de uma artista trans: "Todos temos a oportunidade de mudar para melhor, de sermos melhores pessoas. Se és alguém que nos fez sofrer, é altura de também tu mudares."

O discurso foi recebido com entusiasmo pela plateia em Cannes, onde a elite do cinema mundial se reuniu para a 77.ª edição do festival. A decisão de atribuir um prémio coletivo às melhores atrizes quebrou a tradição e a inclusão de uma intérprete trans na categoria foi também uma novidade na história do festival.

Apesar do entusiasmo no festival, a decisão do prémio acabou por gerar controvérsia. "Esta é mais uma ilustração da forma como a ideologia trans tira às mulheres e dá aos homens", disse Fiona McAnena, diretora de campanhas da organização britânica Sex Matters. "Este ator deveria ter sido considerado na categoria masculina. As indignidades e os desafios enfrentados pelas mulheres na indústria do espetáculo são notórios. Nem sequer a categoria de prémios para mulheres pode ser livre de homens", acrescentou.

Quem é Karla Sofía Gascón?

A atriz espanhola nasceu em Madrid em 1972 como Carlos Gascón. Aos 19 anos, conheceu a mulher, Marisa, numa discoteca. Tiveram uma filha que tem hoje 13 anos.

A sua carreira começou na década de 1990 em séries populares da televisão espanhola. Mais tarde, mudou-se para o México, onde apareceu no popular filme mexicano de 2013 Nosotros los Nobles. Completou a sua transição de género aos 46 anos em 2018.

Karla Sofía Gascón afirmou à imprensa que queria ser mulher desde os seus quatro anos de idade. "Somos pessoas normais que podem ter as carreiras que quiserem. Uma pessoa trans é alguém que está a passar por uma transição. Uma vez feita a transição, é isso. Eles são o que são", disse.

O festival de Cannes incluiu 22 filmes a competir na categoria de Melhor Atriz. Demi Moore, Aubrey Plaza, Emma Stone e Uma Thurman também foram consideradas pelo júri. Demi Moore, candidata por The Substance, um drama de "terror corporal" sobre atrizes envelhecidas em Hollywood, estava entre as favoritas para o prémio.

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Antes de receber o prémio, a atriz deu uma entrevista ao site dos prémios norte-americanos Globos de Ouro. "Olhem, primeiro que tudo, algo que eu gostaria de ser é um exemplo de que os atores, atrizes que trabalharam no duro todas as nossas vidas... que trabalhem, deixem-nos dar o seu melhor com amor. Sou parte dessas atrizes. Quero ser um exemplo para quem me vê que sim, conseguimos fazê-lo. Quero ser um exemplo para qualquer pessoa em como é possível, essa é a coisa principal. E por outro lado, o que corresponde a mim como uma pessoa da comunidade LGBT, claro, é que quero ser um exemplo de normalização quanto às pessoas transgénero porque no fim do dia, depois de tudo, somos pessoas capazes de fazer o que queremos", frisou. 

"Ser trans não me tornou nem mais burra nem mais inteligente. Sou a mesma pessoa que sabe como representar na mesma ou talvez melhor porque agora tenho mais liberdade para trabalhar. O que peço aos pais que tenham pessoas que sejam diferentes ou que tenham outras preocupações é que os apoiem, que lhe deem amor."

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