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2001: Odisseia no Espaço estava entre o "hipnótico e o chato"

Não foi um sucesso imediato entre a crítica quando estreou há precisamente 50 anos. Desde então estabeleceu-se como uma obra-prima do cinema.

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Edição de 2 a 8 de setembro
01 de abril de 2018 às 17:22

O filme2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, estreou-se em Washington há 50 anos, a 2 de Abril de 1968, antes de chegar a salas de Nova Iorque e Los Angeles, nos dias seguintes.

Baseado num conto de ficção científica de Arthur C. Clarke, co-autor do argumento, o filme parte da descoberta de um monólito na superfície lunar, similar ao que definira a origem da humanidade, em comunicação com um terceiro, em Júpiter, o que impõe a demanda pela nave Discovery, a sua tripulação e o quase humano computador HAL9000.

Nomeado para quatro Óscares, entre os quais os de melhor argumento e melhor realizador,2001: Odisseia no Espaço obteve apenas o de melhores efeitos especiais, entregue a Kubrick, mas transformou-se numa das referências da história do cinema e inspirou realizadores como Steven Spielberg, George Lucas e Riddley Scott, que o consideram uma "obra-prima".

No início, porém, as críticas não foram favoráveis. OThe New York Timescolocou-o entre o "hipnótico e o chato", a Harpers Magazine acusou-o de demonstrar "uma monumental falta de imaginação", enquanto a Variety, embora o considerasse um filme "grande e belo", com uma "fotografia soberba", também o classificou como pesado, confuso e demasiado longo.

A produtora MGM considerou retirar o filme das salas, perante a falta de entusiasmo da crítica, mas os exibidores, compostos na maioria por pequenos e médios empresários, ainda independentes das 'majors', opuseram-se, pois tinham verificado um aumento progressivo de público durante as primeiras semanas de exibição.

2001: Odisseia no Espaçoteve estreia portuguesa em 1 de Outubro de 1968.

Cerca de 20 anos antes, em 1948, Stanley Kubrick visitara Portugal, como foto-repórter da antiga revista norte-americana Look (1937-1971), numa viagem de Lisboa à Nazaré, na procura de locais do país europeu que escapara a bombardeamentos durante a II Guerra Mundial.

As imagens, todas a preto e branco, estão agora depositadas na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, com o acervo da revista, e testemunham locais que vão do Buçaco à Nazaré, passam pela praia do Guincho, e detêm-se em Lisboa, em sítios como o Castelo de São Jorge e o Bairro Alto.

A reportagem foi publicada em 3 de Agosto de 1948, repetida na edição de 1 de Dezembro de 1953, e as imagens incluídas na obraDrama and Shadows, do historiador Rainer Crone, sobre o realizador como fotógrafo.

Para Crone, Kubrick, que trabalhou para a Look dos 17 anos aos 21 anos (1945-1950), "já era um cineasta", que construía "autênticosstoryboards", com estas imagens.

2001: Odisseia no Espaço surgiu na carreira de Kubrick depois deSpartacus (1960),Lolita (1962) eDr. Estranho Amor (1964), os filmes que lhe deram as primeiras nomeações para os Globos de Ouro e os Óscares, e antecedeLaranja Mecânica(1971),Barry Lyndon (1975),Shining (1980),Nascido para Matar (1987) e o derradeiro, "De Olhos Bem fechados", estreado após a sua morte, ocorrida em Março de 1999, aos 70 anos.

Horizontes de Glória (1957) eMedo e Desejo (1953), dois manifestos anti-guerra,Um Roubo no Hipódromo (1956), incursão no 'filme negro', assim comoO Beijo Assassino (1955), premiado em Locarno, foram as primeiras longas-metragens de Kubrick, que surgiram depois de documentais comoSeafarers (1953), elogio ao movimento sindical, eDay of the Fight, sobre umboxeur.

Os 50 anos de2001: Odisseia no Espaço - e os 90 do nascimento do realizador - vão ser celebrados no próximo Festival de Cannes, com a estreia de uma cópia de 70 mm, numa sessão apresentada por Christopher Nolan, que se inspirou no filme para dirigirInterstellar (2014).

"É uma grande honra para Cannes ter Stanley Kubrick na selecção oficial", disse o director do festival, Thierry Fremaux, na semana passada, no anúncio da sessão.

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