Num museu, o melhor sinal de boa saúde é a reorganização periódica do seu espólio, oferecendo-o aos olhares do público em novos contextos e ideias. Pedro Lapa resolveu ser ambicioso e, como curador da nova colectiva da Colecção Berardo, decidiu não só reunir artistas portugueses, o que já de si constituiria um tema, mas também colocá-los sob um guarda-chuva temático, que deu origem ao título da exposição. O Enigma inaugurou a 23 de Março e fica no museu até Setembro, mês em que Lapa pretende inaugurar uma segunda mostra de autores nacionais, sob outro tema. "A colecção abrange todo o século XX e grandes nomes internacionais, mas também tem portugueses, com especificidades que importa sublinhar. Ao associá-los a uma ideia, fomenta-se outra observação", explicou ao GPS Pedro Lapa, referindo que "a noção de enigma, que define a exposição e se insere na Teoria Estética de Theodor Adorno, não é exclusiva de um período ou movimento, mas transversal à arte". Mais: "Todo o trabalho artístico é sempre de resistência à instrumentalização da linguagem." Ou seja: "A arte é sempre enigma. Não lida com transparência e objectividade, como a linguagem jornalística, por exemplo." "A linguagem da arte é mais complexa e baralha os conceitos do mundo, gerando dificuldades de interpretação e carregando em si própria a incerteza", diz o curador, sublinhando que é sua intenção "gerar olhares perplexos e suscitar reflexão" com esta selecção de seis obras de grandes dimensões, datadas de 1972 a 2008: uma parede de fotografias de Jorge Molder, uma escultura em ferro de Rui Chafes, com três metros, um vídeo de João Tabarra e enormes instalações de Ana Vieira, Pedro Cabrita Reis e Pedro Paiva/João Maria Gusmão. O Enigma - Arte Portuguesa na Colecção Berardo Museu Colecção Berardo Centro Cultural de Belém, Lisboa Até 25/9 || 10h-19h Grátis