Robert Shiller recebeu o Prémio Nobel da Economia depois da crise financeira internacional de 2007-2008, que teve uma das suas origens nos problemas do mercado imobiliário nos EUA e noutros lugares. O momento não foi irrelevante. Não porque Shiller não seja um extraordinário economista, mas porque a investigação que o notabilizou se debruça sobre os preços dos activos, incluindo imobiliários. Tem até um índice de preços de imobiliário nos EUA com o seu nome. Mas neste livro Shiller quer algo diferente. Quer salvar a má reputação que as finanças e os mercados financeiros adquiriram na sequência da crise internacional. Por haver leis estúpidas, regulação conivente, gente sem escrúpulos, cegueira intelectual, incentivos perversos, e por aí em diante, foi curto o salto que se deu para muita gente chegar à conclusão de que a tecnologia financeira era pura e simplesmente dispensável. Perigosa e dispensável. Ora, Shiller discorda. Não discorda de que haja muito excesso, muita perversidade no mundo das finanças. Discorda, sim, dos que alegam que a tecnologia financeira seja supérflua e inútil. Na verdade, Shiller aqui pretende integrar essa tecnologia ao serviço da "boa sociedade" – isto é, da sociedade a que aspiramos, mais justa e mais estável. É por isso que a tradução portuguesa do título original – "Finance and the Good Society" – é uma aberração.