O NOS Primavera Sound "vive do momento" e nós deixamo-nos viver com ele, ano após ano. José Barreiro, o director do orgulhoso irmão mais novo do festival de Barcelona – incomparável em escala e por isso mesmo muito mais exaustivo no seu cartaz de quase 200 nomes – analisa este line-up de 2018 como o natural reflexo da influência do universo da música negra americana na produção musical contemporânea. "Este ano temos tanta coisa nova", faz uma pequena pausa, recosta-se confortavelmente na cadeira para logo se deixar levar de um jeito contemplativo pelos nomes fortes desta edição. Tyler, The Creator, o flower boy que resolveu delapidar o que de mais superficial havia na sua rima para se mostrar sem máscaras ao mundo com o seu último trabalho; a neozelandesa Lorde, uma estrela em ascensão do pop dos tempos modernos que com o segundo álbum Melodrama (2017) conquistou o aplauso da crítica por todo o mundo; a reflexão Big Fish Theory (2017) de Vince Staples, uma espécie de ensaio sociológico sobre as intercepçoes do rap com a cultura actual; o insaciável A$AP Rocky, rapper de Harlem do multifacetado colectivo novaiorquino A$AP Mob (Always Strive And Prosper), que seduziu as ruas em 2011 com o seu primeiro single Purple Swag e que tem um novo álbum – o terceiro – a caminho e pronto a ser apresentado ao vivo no Parque da Cidade; o R&B emocional e fiel herdeiro dos anos 90 de Kelela, uma voz que vai dos oito aos oitenta com uma facilidade assombrosa e que tem em Take Me Apart (2017) uma das suas mais expressivas manifestações; o ecletismo de Thundercat, a linguagem multicultural das gémeas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz do duo franco-cubano Ibeyi e o fenómeno do R&B Rhye também têm uma palavra forte a dizer.