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Há novos desafios na formação executiva

Entre a pressão da IA, a transição energética e a incerteza geopolítica, a formação de executivos entra numa fase crítica. As escolas procuram reinventar programas para líderes que já não têm tempo a perder, nem margem para errar.

25 de setembro de 2025 às 09:28
A velocidade das mudanças tecnológicas, a urgência da sustentabilidade e a volatilidade dos mercados estão a reconfigurar o que significa ser líder. Nas palavras de Joana Santos Silva, CEO do ISEG, “o maior desafio será antecipar competências para um mundo em aceleração exponencial”.

A exigência é clara e os programas que preparem gestores para lidar com inteligência artificial generativa, transformação digital e tensões globais ganham relevância. Não basta acumular conhecimentos, é preciso cultivar pensamento crítico, resiliência e capacidade de decisão em ambientes de incerteza. Para Marta Ferreira, coordenadora executiva da Portucalense Business School, a imprevisibilidade é a regra, não a exceção. “O mercado está em constante transformação, fruto da rápida evolução tecnológica tornando as empresas cada vez mais competitivas”, afirma esta responsável. Neste quadro, a formação executiva deixa de ser opcional e passa a ser estratégica, um fator diferenciador para profissionais e organizações. O desafio, contudo, não está apenas nos conteúdos. As escolas enfrentam a necessidade de oferecer programas flexíveis, ajustados a agendas sobrecarregadas, sem comprometer a profundidade. Marta Ferreira sublinha que é crucial “desenhar programas que facilitem a coordenação da vida pessoal com a vida profissional”, respondendo de forma rápida aos objetivos definidos. Outro aspeto decisivo prende-se com a aplicabilidade imediata. A formação não pode ficar confinada à sala de aula, ou seja, deve traduzir-se em impacto direto no desempenho das equipas. É neste ponto que a ligação estreita entre academia e empresas ganha peso, permitindo desenvolver soluções customizadas e medir resultados de forma tangível. Personalização e humanismo A procura por percursos formativos personalizados será uma das tendências dominantes. José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education, alerta que os executivos não dispõem de tempo para cursos extensos, pelo que “programas que respondam de forma rápida e direta às necessidades do momento vão ser cada vez mais procurados”. No entanto, essa rapidez não pode sacrificar a visão de longo prazo. Outro fator crítico será a capacidade de equilibrar tecnologia e humanismo. José Crespo de Carvalho defende que, apesar da inevitabilidade da inteligência artificial, a formação deve manter um “pendor humano e próximo”, capaz de estimular o crescimento pessoal e não apenas a eficiência técnica. A dimensão internacional também terá de crescer. Num mercado globalizado, a formação executiva exige parcerias internacionais e um olhar atento às tendências globais, sem perder a ligação ao contexto económico português. Liderar em tempos de transição Óscar Afonso, diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, acrescenta novos elementos ao quadro, como sejam a pressão demográfica, a retenção de talento e a necessidade de aprendizagem ao longo da vida. Para o responsável, só uma oferta que combine rigor académico, atualização constante e ligação à prática empresarial permitirá preparar executivos para um mundo em mutação acelerada. A antecipação de impactos da desglobalização, a redução de fundos europeus a partir de 2027 e a mobilização de recursos internos são apenas alguns exemplos dos desafios que exigem líderes mais bem preparados. Por tudo isto, a formação executiva em Portugal tem pela frente uma encruzilhada que inclui responder à urgência tecnológica sem perder de vista o fator humano, alinhar-se com tendências globais sem descurar as especificidades locais e garantir flexibilidade sem comprometer profundidade. Mais do que nunca, formar executivos é formar estrategos capazes de ler o presente e antecipar o futuro.

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