Uma referência no panorama educativo nacional
Objetivo do Uniarea é comunicar aos jovens, e aos menos jovens, as suas possibilidades de futuro formativo, capacitando-os a tomar as decisões mais acertadas
O Uniarea é uma comunidade online de milhares de estudantes criada no início de 2014. Nasceu para dar informações sobre o acesso ao ensino superior aos estudantes do ensino secundário e hoje tem um papel de referência no panorama educativo nacional. Atualmente, integra já as escolhas educativas na passagem do ensino básico para o secundário, informação sobre os exames nacionais e a transição para formação pós-graduada no ensino superior. Entrevistámos Davis Gouveia, o fundador da Uniarea.
Que balanço faz deste projeto?
O balanço destes sete anos é muito positivo. Com um crescimento constante, ultrapassámos no último ano os 5 milhões de visitas e o nosso conteúdo foi visualizado mais de 16 milhões de vezes no mesmo período. No nosso fórum já se registaram mais de 145 mil membros, que já trocaram publicamente mais de 500 mil mensagens. Do ensino básico ao ensino superior, passando pelo ensino secundário, aos exames nacionais, aos cursos e instituições superiores, tudo o que esteja ligado à educação e aos jovens é motivo de debate na comunidade. Já ajudámos centenas de milhares de jovens, a quem respondemos mensalmente milhares de mensagens com dúvidas sobre o funcionamento do acesso ou dos cursos. Paralelamente, temos parceiros a quem prestamos serviços de consultoria de comunicação, contribuindo para a sustentabilidade do projeto, desde organismos como o Parlamento Europeu a empresas interessadas neste segmento e instituições de ensino superior. Pelo caminho arrecadámos um prémio de Blog do Ano em Portugal na categoria Educação e somos um dos portais mais visitados pelo segmento secundário e superior no nosso país.
Que expetativas tem para o próximo ano letivo?
Espero que o próximo ano letivo possa ser um ano de retoma gradual a um novo normal, que seja o mais próximo do que tínhamos antes da pandemia, mas aproveitando todas as lições que nos trouxeram estes últimos três semestres letivos. Considerando que o ano letivo começará novamente mais tarde do que o habitual, no início de outubro para os novos alunos, esperamos nessa altura ter grande parte da população inoculada, incluindo a universitária. Seria um novo normal com, por um lado, os campi universitários novamente cheios, retomando as aulas presenciais, ao mesmo tempo que se permite a retoma gradual de todas as atividades extracurriculares, sociais e académicas, que enriquecem a experiência universitária. Espero que a procura por formação superior continue com a tendência crescente do ano anterior, embora a crise económica provocada pela pandemia possa levar a uma quebra não só dos candidatos, como até a um aumento das desistências dos alunos que já estão no ensino superior.
Quais são os desafios e também as oportunidades que as instituições de ensino superior nacionais têm pela frente para 2021/2022?
O principal desafio continua a ser a atração dos alunos do secundário que têm vindo e vão continuar a diminuir. Perante esse cenário, a procura de outros públicos será cada vez mais importante. Por um lado, os estudantes internacionais, cujo concurso especial criado em 2014 veio impulsionar o trabalho desenvolvido pelas instituições de ensino superior, e que representam hoje 15% do total de inscritos no ensino superior. Esperemos que o próximo ano possa trazer mais confiança na aposta em Portugal para estudar, como um maior reforço do trabalho desenvolvido não só pelas instituições de ensino superior, como do próprio Governo na promoção e posicionamento do nosso país nesse sentido. Não basta criar um portal estático e esperar que os alunos o descubram, que é o que temos para já no Study & Research in Portugal.
Por outro lado, outro dos públicos que representa uma oportunidade são as pessoas à procura de reconversão de carreira ou continuação de estudos numa fase mais tardia da vida. A não aposta na formação online ou híbrida, com todo o conhecimento que se acumulou nos últimos meses, numa população que é sensível a horários, será uma oportunidade perdida. Finalmente, apontaria apenas a desintegração da maioria dos mestrados integrados existentes, que deixam de existir no próximo ano letivo. Uma das áreas mais afetadas será a da engenharia, na qual todos os mestrados integrados deixam de existir, criando a oportunidade às universidades de poderem, por um lado, diversificar a oferta dos mestrados, como, por outro, poder captar alunos de outras instituições.
O mercado de trabalho está em constante mutação e evolução. As universidades e politécnicos portugueses têm-se atualizado e estão a preparar bem os alunos para esta nova realidade?
Embora essa seja uma crítica comum feita ao ensino superior, acho que essa adaptação tem vindo a ser feita, provavelmente não com a rapidez de que gostaríamos. Temos de ter em conta que a agilidade e a rapidez das universidades não são tipicamente as mesmas que as empresas têm cá fora, ou até que outras universidades têm noutros sistemas educativos.
Um exemplo prático que posso dar é a área da ciência de dados. O título de cientista de dados remonta a 2008, e a profissão já era apontada em 2012 pela Harvard Business Review como "o trabalho mais sexy do século XXI". O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, já tem um Centro dedicado à Estatística e à Ciência de Dados desde 2015, oferecendo desde essa altura um Menor nessa área a qualquer aluno de licenciatura da instituição. À falta de formação na área no nosso país, e devido à procura das empresas de tecnologia destes profissionais, em 2017 nasceu em Lisboa uma academia informal dedicada à área. A primeira licenciatura em Ciências de Dados no nosso país abriu apenas há dois anos no ISCTE, no ano letivo 2019/2020, uma aposta inovadora que preencheu sem dificuldades as 70 vagas abertas.
Entretanto, no corrente ano letivo abriram mais dois cursos na área da ciência de dados na Universidade de Coimbra e na UTAD. É provável que outras instituições sigam o mesmo caminho.